Ser avó a distância

Amigo Anjo: Para me redimir, postei um texto escrito por mim. Acanhado em relação ao da Rachel de Queiroz.

Ser avó é despir-se da sisudez de mãe e encarnar em novo corpo, alimentado por novas ideias e novéis posturas em relação aos netos.

Quando me tornei avó pela primeira vez, era bem mais jovem. O nascimento do Andrei, um garotinho lindo, fez renascer em mim uma força e uma vontade enormes para partir em busca de alternativas de longevidade. Queria vê-lo crescer, participar de suas conquistas, viver...

Bem mais velha, ao tornar-me avó pela segunda vez, aflorou-me, de novo, o desejo de viver eternamente... Sempre ouvi de minha mãe que neto "era um filho com açúcar". Acreditava ser exagero. Hoje, tenho a certeza de que é um filho muito bem caramelado.

Foi na hora em que a vi pela primeira vez que esse desejo de me perenizar tomou conta de mim. A Marianna, surgida em horas muito tristes de minha vida, ao nascer, o milagre aconteceu! Superei tudo e ao coração retornou o sorriso. Para ela, minha voz procurará sempre entoar doces canções de ninar. Com o Andrei e a Marianna, eu viverei enquanto eles ainda se lembrarem de mim. Isso quer dizer ETERNIDADE!

Quanto mais olho as fotos da Marianna, que acaba de completar um ano e seis meses e começa a articular palavras e frases, mais me certifico de quanto veículos de comunicação tão fabulosos como o PC e a internet contam pontos em minha vida.

O que seria de minha vida apenas imaginá-la? Não lhe perceber o céu azul dos olhinhos, o sorriso sabendo a mel, os trigos amadurecidos de seus suaves fios de cabelo? Não perceber os efeitos produzidos pela maternidade, que tornou minha filha ainda mais deslumbrante, linda, plena de vida?

O que seria da saudade, do sorrir constante por me sentir perenizar nelas, da convicção de que, com um mover de mouse, poderei retê-las em minhas fatigadas retinas? Que seria de minhas horas vadias, de meu tempo, que o desejo ocioso para, sem culpa, contemplá-las?

Com esses instrumentos virtuais, a distância se faz ali, o amanhã não precisa acontecer. É o já volto, espera aí, à tardinha nos encontramos. A espera tem sabor de néctar, bom para aliviar os calafrios de uma tristeza que nunca vem, porque a convicção do encontro é uma cálida certeza.

Quando olho para a Marianna, minha voz se faz cantiga doce, de ninar e de viver. Nela, reascendo os sonhos de velejar em mares distantes, empreender rasantes voos em países, cuja neve feito algodão resiste aos raios de um sol preguiçoso, com receio de abortar meus devaneios. Com ela, sinto vontade de congelar o tempo, encarcerá-lo num presente que não acabe para vê-la crescer, casar, ter filhos.

Sonho Impossível! Irrealizável, mas bom de sonhar... suave e surrado como aquela cantiga, "...,se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu amor passar.." Plagiaria a música e a cantaria assim:
"Se o presente, se o presente fosse meu, eu mandava, eu mandava congelar, pra viver, pra viver intensamente e para com a Marianna só brincar". Sonho meu...