sábado, 5 de fevereiro de 2011

Olha eu em Zero Hora outra vez!



Sempre digo que, para eu ser feliz, não necessito de muita coisa. Para mim, hoje, o dia nasceu belissimamente iluminado, apesar da instabilidade do tempo. O motivo de minha incipiente felicidade diária é a publicação de mais um texto meu em Zero Hora. Escrevi-o centrada num acidente que envolveu uma família que amo muito. Sofri e chorei com eles. Testemunhei o seu longo e quase insuportável sofrimento, em que me inspirei, à época, para escrever esta crônica.

Mantive-a trancafiada nos arquivos eletrônicos. Por incentivo de meu amado filho Rodrigo, aperfeiçoei-o e, ontem, pela tarde, enviei à redação de Zero Hora, o mais importante jornal gaúcho. Foi publicado hoje, menos de 12h depois de remetido. Como muitos de meus leitores não assinam ZH ou a ele não têm acesso, reproduzo o meu texto aqui.

Confiram:

O outro lado da dor

Ao tomar conhecimento de trágicos acidentes ocorridos em ruas ou em estradas brasileiras, por instintivo e gradual sentimento de preservação, a sociedade se comove e, raramente, consegue estabelecer um julgamento desapaixonado e isento sobre tão nefastos episódios. Devido às indizíveis mazelas desencadeadas por esses fatos estarrecedores, as pessoas voltam-se, irascivelmente, contra o causador do infortúnio, caso tenha conseguido sobreviver a ele. Comiseração e solidariedade encimam demonstrações afetivas para com os familiares dos acidentados, especialmente se resultar em óbitos ou mutilações.

Parentes e amigos, rememorando as vítimas, fazem aflorar a falibilidade delas, gestando inominável sofrimento naqueles que as rodeiam, não raro acompanhado de ódio e revolta contra o mentor do acidente. Se meros desconhecidos, uma estranha sensação de alívio escamoteia a piedade por não constarem em seu rol de afetos, por isso o sofrimento se faz menor ou a indiferença sobrepuja qualquer outro sentimento. Fazem-se compreensíveis tais posicionamentos, uma vez que esse tipo de evento poderia ser evitado, se o infrator obedecesse às normas de trânsito, não bebesse, refreasse a impetuosidade e se houvesse, nas vias públicas, melhores condições de trafegabilidade. Lamentavelmente, as estratificações sociais olvidam o anverso dessa tragédia.

Só quem conviveu com algum condutor de veículo que escapou com vida e foi o causador do infeliz acontecimento, pode aquilatar a extensão do infortúnio que se abate sobre ele e sua família. Nos pais, ecoa irreprimível sensação de culpa e impotência por não anteverem a tragédia, ao mesmo tempo, sentem-se gratos por não ter sido um dos seus a vítima. Esse misto de culpabilidade e gratidão acompanha todos os envolvidos por longo tempo, cujo desenlace, além de se fazer pontuar por desgastes financeiros e emocionais infindáveis, quase sempre se corporifica em isolamento individual por vergonha ou por medo de enfrentarem o julgamento das pessoas conhecidas e dos parentes daqueles que tiveram vidas ceifadas ou danificadas.

Para que essa hecatombe social seja banida do país, é mister que os membros da sociedade motorizada repensem o seu papel de condutores e façam do prazeroso ato de dirigir uma lição de cidadania ao respeitar as leis de trânsito, servindo como referenciais a serem seguidos. Com isso, seus descendentes assimilarão as lições de como bem conduzir automóveis empiricamente, aperfeiçoando o aprendido junto a instrutores especializados, a fim de que não se valham do veículo como uma arma que pode ceifar a própria existência e a de outrem. Havendo prudência, observância às normas de trânsito, profundo respeito à vida (sem bebidas), as ruas e as estradas (sem buracos) do Brasil servirão como sendas da confiabilidade e retorno seguro para os lares.

8 comentários:

  1. Meu querido Anjo Número Dois! Desta vez vou ter que me render ao comentário que fizeste em relação ao outro texto meu publicado, neste ano em ZH. Enviei e-mail para todos os meus amigos pessoais e virtuais sobre a publicação de mais um texto e, quando é para recriminar ou mandar correntes de rezas, mesmo sabendo que sou agnóstica, enchem a minha caixa eletrônica. Sobre a publicação de meus artigos, nada! Como se fosse comum ter um escrito publicado naquele importante jornal. Tens razão, mas as pessoas não se sentem confortáveis com o sucesso da gente!
    Vou ter que te "dar a mão à palmatória"!
    Um forte abraço.

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  2. Arlete,em primeiro lugar,mais uma vez meus parabens por ter mais uma publicação tua em Zero Hora,e não é qualquer espaço,é quase uma meia página.Quanto a ausência dos amigos é normal,venho dum meio,militar,quando trocava de carro,ou trabalhava no rancho ou a espôsa ganhava mais que o marido,é pura inveja.Mas a resposta estas dando e calando os conterraneos.Só faço uma sugestão,após o Professora colocas Santiago.Parabéns tu és merecedora.Bom final de semana.O maridão deve estar super orgulhoso,bem como os filhos e netos.

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  3. Arlete, querida!!
    Parabéns pelo txt. Tdo q faz referência a este tipo de reflexão deve ser sempre trazido a público. Só quem nunca teve uma perda assim na família não tem idéia do que se passa. Eu já tive na minha e entendo bem esse sofrimento... Querida, de toda forma, vim dizer q, como sempre, um primor! Parabéns de coração!! Beijos saudosos! Carlota :D

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  4. Querida,
    Li tua crônica no jornal de ontem.
    Maravilhosa... real... marcante.
    Parabéns
    Bj
    Lola

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  5. Parabéns Prof.ª Arlete pelo belo texto que escreveste uma mensagem que nos faz refletir sobre o nosso dia a dia e admirá-la ainda mais pelo belo trabalho que vem fazendo ao longo dos anos.
    Tenho um novidade que quero compartilhar com a amiga, fui APROVADO NO DOUTORADO.

    UM ABRAÇÃO DO AMIGO VANDERLEI

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  6. Show de bola, mamãe, segue anexo a "versão" da zero hora.

    Beijãooooooooooooooooo

    O teu Rodrigo

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  7. Bom dia Arlete

    Ontem a noite tive oportunidade de ler na Zero Hora mais um belo texto escrito por você.Parabéns pela riqueza da mensagem, pela maneira inteligente e dinâmica utlizada em todo seu conteúdo e, oxalá todas as pessoas que a lerem, realmente possam refletir sobre sofrimento e dor que não é exclusividade nossa, mas de todos aqueles que nos cercam.
    Abraço.
    Gilberto

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