segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Preciso dizer adeus a Moacyr Scliar?


Quando morre um escritor é como se, no céu, morresse também uma estrela. Se grande e talentoso como Moacyr Scliar, é como se uma constelação das mais brilhantes, de supetão, perdesse o brilho. Como se a mais bela noite, pontuada por milhares de estrelinhas, sem nenhum prenúncio, se transformasse em horrendo cenário noturno de tempestade.

Descobri Moacyr enquanto acadêmica, numa das tantas oportunidades que eram oferecidas aos universitários, mas que bem poucos acolhiam aos apelos da cultura. Assistente de primeira fila, fui sendo cativada por ele. Sua voz doce e quase infantil, de início, não denunciava o notável escritor que ele era. Depois, pausadamente, ia retirando as cortinas do mundo e os descrevia, empregando a palavra concreta, sem devaneios, mas mantendo, nos fonemas, o tom cordial dos talentosos que se mantêm no patamar da modéstia.

Como bem frisou Luís Augusto Fisher: ”Scliar foi alguém que buscou ser inteligente e eficaz; realizou ambos os desígnios como escritor.” Porque “sua linguagem foi sempre a narrativa, nunca a poética: não se encontra em sua obra o esforço pela imagem sublime, plasmada num giro raro de palavras, numa metáfora especial, no vocabulário sutil, e sim se encontra a volúpia do relato, fosse ele de temperamento alegórico (seus contos estão cheios de figuras surpreendentes, animais falando, sonhos divinatórios, etc.), fosse de caráter realista (é repleta de vida cotidiana sua ficção).”

Sua temática era incomparável e fluente porque, segundo suas próprias palavras: “Eu escrevo a qualquer hora e em qualquer lugar. Quando viajo, levo o laptop, estou no aeroporto esperando, estou digitando. Dentro do avião, vou digitando. Quando a gente aprende a se desligar, essa coisa de precisar de silêncio, isolamento para escrever se torna desnecessária.”

Moacyr Scliar continuará digitando magníficos contos, livros e crônicas em minha memória: A balada do falso Messias, Pai e filho, filho e pai, O anão no televisor, A guerra no Bom Fim, O exército de um homem só, Os deuses de Raquel, O ciclo das águas, Mês de cães danados, O centauro no jardim, Na Noite do Ventre, o Diamante, Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar, dentre tantos outros que não li.

Não vou dizer adeus a Moacyr Scliar, porque imortais não morrem, renascem em cada página de sua obra.

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