quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Paul MacCartney passou por aqui


Perdi mais este espetáculo. Deixei de assistir ao magnífico show apresentado em Porto Alegre por Paul MacCartney. No entanto, leio tudo o que se escreve sobre a passagem desse beatle pelo Sul. Um dos textos de que mais gostei foi o de Moisés Guedes, publicado no Segundo Caderno De ZH, de terça-feira, porque relata ao que assistiu com os olhos do coração. Fiz pequenas adaptações para dar o dinamismo que um blog exige. Retirei a resposta dos entrevistados e imprimi o meu jeito de escrever. Moisés me perdoará.

Eis o texto adaptado e que dedico a todos aqueles que tiveram o privilégio de estar lá no Beira-Rio.


Passaram-se dias. Mas conservareis a memória do que se passou ali. Mesmo os que não subiram as rampas de mãos com os filhos e as namoradas. Os que entraram urrando pelo portão 7 do Beira-Rio como se estivessem chegando ao Canaã. Os que se jogavam ao chão e erguiam as pernas para o céu. Os que assistiram a tudo sentados na grama com a bunda de fora. Os que choraram ouvindo sozinhos, em meio a 50 mil pessoas, a canção que ele fez para a gatinha Linda.

Nunca nada teve antes o que se teve ali. Vieram de todo lado, de todas as idades. Em todos eles ecoava uma uníssona emoção, porque tudo, em Paul, remete a um sentimento, a um coração partido, a uma felicidade. Todos se irmanavam por se considerarem “nascidos” da geração Beatles. E todos os Beatles estavam ali, Ele cantava, e John, George e Ringo apareciam ao seu lado no telão.

A emoção se intrometia em todos, porque um beatle, e não um cover, cantava Eleonor Rugby, All My Loving, cantadas por um beatle de casaco roxo, como se dissesse: continuem sem medo das cores. Todos vibraram quando ele desabotoou o segundo botão da camisa, quando coçou a cabeça, fez caretas, produziu grunhidos e quando disse:


- Eu sou gaúcho!

O povo tinha mais do que pedia. Tinha flores e borboletas no telão. Tinha rock, tinha baladas, tinha um céu limpo. E ele, ali, feliz, vigoroso, engraçado, psicodélico. Como ele estava engraçado. Fazia bocas, olhava de lado. Tocava guitarra de todas as cores. A mais linda era uma amarela, singela como aquela primeira guitarra.

A grama era da gurizada e dos velhos. Estes choravam. A gurizada dançava de olhos fechados. Até Ob-La-Di, Ob-La-Da de olhos fechados. O público cantava tudo. Só não se ouvia Yesterday. E então, quando ele se despediu, disfarçando que ia embora, quando parecia que tudo estava acontecido, ele voltou e cantou Yesterday!

Às 23h07min, aí sim, ele disse: go home. Pediu que voltassem para suas casas. E então falou em português:

-Vamos embora.

E se foi, depois de olhar nos olhos de quem estava ali e consolar a todos com a promessa de que voltará:

- Até a próxima.

E todos se foram. Flutuavam em procissão sobre as arquibancadas e o gramado do Beira-Rio, enquanto uma garoa de papel prateado avisava: todos sabem que não haverá uma segunda travessia do Mar Vermelho nem uma segunda passagem do Zeppelin.

Passaram-se os dias. Foi tresanteontem. Algumas coisas não têm uma próxima vez. Não haverá uma noite igual aquela.


E eu não estava lá como se eu tivesse morrido... Só eu mesma não sabia...

2 comentários:

  1. Fantástico, o Móises e tua adaptação, acredito que quem esteve por lá...viveu todos esses bons sentimentos, pois o cara foi o cara e ainda é o cara.
    Feliz de quem viu o Paul, confesso que nem sou tão fã, mas gostaria muiiiiito de ter ido, pois como eu digo: quem viu, viu, quem não viu...não vai ver nunca mais!
    Feliz de quem viu!
    saudades!!

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  2. Bom dia, filha amada!
    Concordo plenamente contigo. Era um show imperdível. Parou no tempo e perdeu um chance infinita de ser feliz com o Paul quem não estava lá.
    Beijões.

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