Palavras ao Vento é fruto de uma necessidade interior de corrigir deslizes orais ou escritos, presenciados no cotidiano; mostrar a urgência de se fazer da educação prioridade nacional; discorrer sobre trivialidades, mostrando o porquê disso ou daquilo e destacar a força que a palavra tem naqueles que captam o sentido das entrelinhas.
domingo, 7 de novembro de 2010
Os espelhos e a passagem do tempo
Depois de muita chuva, o sol mostrou a cara, gargalhando de alegria com o retorno dos dias ensolarados da Primavera. Ao longe, o horizonte iluminado deita-se sobre a vida a espera que nada de ruim possa acontecer à natureza. As flores que enfeitam as árvores, aos poucos, vão se soltando dos galhos e bordam o chão com suas cores exuberantes. Os ipês, alguns quase desnudos, olham com tristeza, o tapete amarelo formado com suas florezinhas fujonas.
Até o riso das crianças ecoa mais festivo e o lento caminhar dos velhos parece acompanhar uma música escondida na memória e que, teimosa, impulsiona-os a andarem sempre em frente. Neles, a estação das flores gera o milagre da renovação como se os jovens antevissem cenas do futuro e os mais velhos revivessem cenas do começo de suas vidas. Aos primeiros, as imagens surgem com ansiedade, esperança pela incógnita causada pelo que virá. Aos outros, ao levantarem os lençóis de reminiscências que encobrem o passado, podem revê-lo com saudade, nostalgia ou acomodado rancor.
É justo nesse momento de impasse e de transição que a velhice acolhe melhor os otimistas. Lendo um texto sobre a vinda do magnífico bailarino Mikhail Baryshnikov, no vígor de seus 62 anos, ao ser questionado sobre a sua vida, o seu presente e como se situa no passado, deu esta contundente e sapientíssima resposta : "Não sou do tipo que fica deprimido pensando no passado. Quero da vida o que ela ainda pode me dar, quero pensar no futuro."
Destemidas palavras que geraram em mim novos ânimos para continuar com os olhos centrados nas linhas do horizonte do futuro, sem me deter na contagem do tempo que ainda me resta viver. Claro que as marcas do tempo me incomodam. Fujo do espelho como o diabo da cruz, embora tenha profunda inclinação por essas esplêndidas peças que adornam e denunciam, mas que, com sua implacabilidade, são testemunhos vivos de que o tempo não retorna. No entanto, os espelhos, ao refletirem a imagem invertida, induzem a interrogar se invertida, irreal, ilusória não é também a percepção que temos dela?
Correndo atrás de imagens e definições acerca de espelhos, encontrei um texto elucidativo e que reproduzo abaixo:
"Com a capacidade de refletir quase toda luz incidente sobre eles, formando assim a cena à sua frente, espelhos são como pedaços de sonhos, imagens extremamente reais e profundamente falsas, que revelam as verdades que talvez não se queira enxergar. Mas dê-lhes um pouco de fumaça e um lugar para chamarem de seu que os espelhos dirão apenas mentiras.
Quando olhamos para o espelho, nossa beleza relativa não é a única coisa que julgamos erroneamente.
Em uma série de estudos, Bertamini e seus colegas entrevistaram grandes quantidades de pessoas sobre o que elas achavam que o espelho lhes mostrava. Foram formuladas questões como, Imagine que você está na frente de um espelho no banheiro, quão grande você acha que a imagem de seu rosto será? E o que aconteceria com o tamanho dessa imagem se você desse um passo para trás, para longe do vidro?
A maioria esmagadora das pessoas costuma dar as mesmas respostas. Na primeira questão costumam dizer, "bem, o contorno do meu rosto no espelho deve ser praticamente do mesmo tamanho do real". Já na segunda questão, "isso é óbvio: se eu me afastar do espelho, o tamanho de minha imagem vai diminuir a cada passo".
Acontece que as duas respostas estão erradas.
Voltem aqui amanhã e saberão qual é a resposta certa.
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