domingo, 12 de fevereiro de 2012

Palavras

 
Recebi esta CRÔNICA, escrita por  J. BICCA LARRÉ, de minha adorável amiga, a Cinara Della Flora Velasquez, pessoa de grandes méritos literários e de uma vontade férrea de vencer os seus objetivos como professora universitária. Linda garota como também é lindo o texto enviado por ela. Vale a pena ler.

Palavras

Minha vida é uma busca permanente. Mas busco, de fato, poucas coisas. Gosto de mim mesmo porque, afinal, contento-me com muito pouco. Não vivo das letras, eu, que escrevo desde pequeno. Vivo pelas letras. Elas são o meu estribo. O meu pedestal. Subo nele e penso o mundo, vejo o infinito, teço nuvens e as espremo até que chorem chuva. Depois, enxugo-as cuidadosamente para que se tornem mais brancas e mais leves. Esgarço-as e as desfio nesse processo gasoso de desenhar palavras no inimaginável céu dos sonhos.

Ali, ao abrigo de críticos e de gramáticos, invento palavras novas, exumo nomes já sepultos. Resgato ideias caducas e salvo do descaso alguns sons abandonados pela cacofonia do tempo.

Faço o mesmo trabalho dos garimpeiros. Bateia em punho, escavo esperanças de uma pedra rara. Não ando atrás dos valores do mercado. Apenas busco o brilho, o fulgor, a cintilação e a beleza transparente e sutil dos diamantes, ou a rara cor das esmeraldas, das opalas, dos rubis, das águas-marinhas, das granadas, das turmalinas, do jade, do jaspe ou dos topázios.

Como as joias, as palavras têm seu canto, têm seu brilho e seu encanto. Os poetas e escritores são artífices dessa espécie de joalheiros. Importa, pois, conhecer as palavras como os garimpeiros sabem das mais preciosas gemas.

Por isso, busco ardentemente palavras que cintilem brilho, que deslumbrem cores e que cantem. Raramente encontro uma ou outra. Tento enfeitar frases com alguma gema que descubro. Uma ideia que me ocorra, muita vez não vale mais do que as palavras com que tento embelezá-la.

Há ocasiões em que sinto a incontida vontade de inventar palavras novas, para atender a ânsia que tenho de transmitir meus desvairados pensamentos. Quem encontrar palavras mágicas, que me traga de presente.

Ando desesperadamente à procura de uma palavra que melhor defina o amor do que essa aí mesma, desgastada pelo tempo e desfigurada pelo uso falso das rotinas. Não gosto das palavras vazias. Quero dizer amor com o coração na mão e a emoção nos olhos. Mas a palavra me falta e desfalece em mim como um ser exangue. É das minhas penas.

2 comentários:

  1. Arlente,lendo as "Palavras" meu domingo será muito melhor,mesmo com todo o sol, faltava algo para "brilhar". Um bom domingo para toda a familia.

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  2. Lindíssimo o texto, não, amigo querido.
    A poesia que cada palavra revela é um encantamento. Adorei tudo e, em especial, esta passagem: "Vivo pelas letras. Elas são o meu estribo. O meu pedestal. Subo nele e penso o mundo, vejo o infinito, teço nuvens e as espremo até que chorem chuva."

    Obrigada pelo comentário.
    Abraços.

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