sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O encanto das nuvens






Quando criança, gostava de me deitar na relva e ficar horas a fio procurando desenhos nas nuvens. Ora via um ganso, um cachorro, uma boneca, um cisne, uma fada. O que me encantava mais era a vontade de subir ao céu e, com o pente adornado de estrelas, pentear a alva cabeleira das nuvens. Depois, recolhê-las com carinho e, gulosamente, ir sorvendo-as como se fossem algodão doce. Se as nuvens estavam espalhadas, via um cavalo trotando no cèu. Se miúdas e juntinhas, um tropilha deles , galopando célere no infinito.

Entristecia-me, às vezes, ao lembrar que, durante as tempestades, eram elas que faziam transbordar os rios, derrubavam casas, roubavam vidas. Via-as, então, como a mais malvada das bruxas com suas vestes e cabeleira bem negras. Depois, voltava a sorrir, sabendo-as passageiras e me regozijava quando escondiam o sol. Para mim, eram tão poderosas, porque podiam se transformar em qualquer coisa. Até sumirem para se camuflar no azul clarinho do céu.

Quanta surpresa senti, quando, na escola, a professora ensinou que a chuva vinha das nuvens. Pensava que elas (as chuvas) eram lágrimas caindo do céu por alguma travessura que eu fizera.  Nos dias de sol, imaginava (as nuvens) como sendo um enorme algodão doce a ser deglutido por mil anjinhos. 


Não sei se desilusão ou alívio senti com a nova aprendizagem. Sempre que olhava e olho para o céu, continuo apostando corrida com elas e as invejo porque podem sumir e voltar, correr e se deter impelidas pelo vento e continuarem branquinhas, mesmo depois de violenta tempestade.

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