quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Meras palavras...


Outra vez, solicitei à amiga querida que selecionasse três vocábulos para eu escrever um texto, que me serviria como desafio e fuga ao mal que pode acometer os mais velhos. O “alemãozinho” dito pelos felizes. O alzaimer, terror dos pensantes. *O que escrevi, estampei abaixo.

Ah! As palavras selecionadas por ela foram lente, amálgama e carcaça.


*Meras palavras....

Quantas vezes precisamos de um ombro, de um regaço amigo para verter ali lágrimas incontidas. Tantas outras procuramos quem escute sobre o nosso sucesso ou a vitória de um ser querido e abortamos as palavras no âmago da boca com medo de sermos considerados megalômanos. Às vezes, adivinhamo-nos tão sós, mesmo rodeados por tantas pessoas. Disse alguém que a pior solidão é a solidão de estarmos acompanhados. Uma solidão a dois é o pior de todos os castigos, porque o silêncio denuncia a não aceitação dos problemas do outro ou a sua irremediável rejeição. Para que vale o antes só do que mal acompanhados se a índole humana necessita de companhia? Não nascemos sós. Poderemos viver ou estar sós. Irremediavelmente. Para muitos, a solidão é a cruz que lhes ronda as existências. Para outros, é o útero acolhedor para os dias de fadiga.

O compartilhamento de trivialidades, a troca de palavras, mesmo que fugazes e incompreendidas, podem testemunhar que algo ainda não pereceu. Basta procurá-las com as lentes aguçadas do coração para vislumbrarmos estrelas em dias ensolarados. O afeto, tantas vezes, executa milagres inaceitáveis pela razão e esta comete erros inadmissíveis para as linhas indivisíveis da alma. Nada pode deter o tempo. Nenhum dia será abortado. As noites foram feitas para serem esquecidas no balanço dormente do sono. E sonhar pode ser um ato inconsciente, mas que pode ser transportado para a concretude da mente e se transformar em quimeras sonhadas de olhos bem abertos.

Viver é um fato e um ato de renovação permanente. Morre antes quem não aceita viver intensamente em vida ou se recusa a aceitar o bom e o ruim, o alegre e o triste, o crime e o perdão. Tudo misturado formando o amálgama trivial de que somos feitos: nervos, fibras, carne e ossos, sangue, suor e lágrimas. A carcaça pode não ser bela se o interior é radiante. A palavra pode ser cruel se for dita com a mordaz intenção de ferir. Um olhar azul, um sorriso de criança, uma palavra sussurrada ao vento podem curar corações dilacerados. Um bom dia proferido com ênfase pode servir de bálsamo a quem se sente só mesmo estando rodeado de faces que riem, inexpressivas, murchas, desprovidas da seiva da vida.

Palavras ditas, malditas, roucas, apagadas, orais e escritas podem aconselhar, apaziguar, destruir e acalentar. No entanto, serão sempre palavras, misturas opacas de traços e sons, nada mais...

2 comentários:

  1. Oi, Arlete. Andava outra vez sumido. O motivo é mais que justificável. Estava fazendo um curso de Inglês nos Estados Unidos e fui prorrogando os estudos.
    Como sempre seu blog está muito bonito e interessante. Gostei dessas dica de português.
    Abçs.
    João Lucas

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  2. Bom dia,João Lucas!
    Andava preocupada mesmo pelo teu silêncio. Que bom que o motivo era para lá de justo.Um sonho meu bem antigo: estudar línguas no estrangeiro, só que Francês. E em Paris.
    Obrigada pelos elogios ao blog e pela visita.
    Um abração.

    Arlete

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