quarta-feira, 30 de março de 2011

O protesto de Paulo Sant' Ana



Temos um saudável hábito o meu marido e eu. Pela manhã, enquanto o sol ainda reluta em  se mostrar por inteiro, mas plenamente acordado, aproveitamos a mútua companhia para matear, ler jornais, saber das últimas do mundo e da terrinha através da rádio local, ao mesmo tempo em que trocamos ideias sobre o que lemos ou ouvimos. Antes discordávamos do comentário articulado e, por isso, arrefecíamos o ânimo. Com o passar do tempo, aprendemos que ouvir e, às vezes, calar são duas ações que devem ser reiteradamente treinadas para que o conflito não se estabeleça, ganhe corpo e se fortifique, tumultuando uma relação tão sólida como a nossa.

Desse convívio matutino, quando um ou outro encontra algo interessante, lê o achado em voz alta. Se o assunto interessa, compilo-o ou o atapto porque já nasceu com o destino selado, as páginas brancas deste blog. Os temas comentados por ele, homem de notória inteligência e humor às vezes cáustico em relação à vida, às pessoas, à política, ao Brasil e ao mundo, têm servido para postagem, cujo sucesso, de antemão, já sai garantido. Dentre as contumazes críticas proferidas por ele, está o seu profundo desagrado em relação à Copa do Mundo, que será realizada no Brasil.

Nesse tipo de indignação, sempre lhe fiz coro. Como pode um país, que deixa morrer os seus filhos em corredores de hospitais ou na indigência, que tem um dos maiores índices de pobreza do mundo e total despreocupação com o nível educacional do povo, dentre outras tantas mazelas, pode jogar pela janela milhões de reais para a construção de estádios, futuros elefantes brancos e que, já sabemos, milhões do dinheiro irão cair em mãos de corruptos e de corruptores?

Dentre as incontáveis trocas de palavras, veladamente, entendo a mensagem de que este ou aquele assunto gera uma brilhante postagem. Não foi diferente com o texto de Paulo Sant’Ana do dia 29 de março. Ainda estarrecidos sobre  as inúmeras doenças já sofridas por ele, o próprio autor revelou, no texto “O diagnóstico”, que “há dias apareceu um câncer no meu (dele) organismo”. A notícia assim dada para todo o mundo saber não deixa de causar profunda tristeza. Consternamo-nos ao saber de coisas desairosas de estranhos, imagine-as oriundas de uma pessoa tão notória e que entra em nossa casa, induzindo-nos a reflexões inteligentes e profundas como o tem feito Paulo (ou o Pablito?)

Ficamos inconformados. Com a genialidade desse escritor-cronista que propalou a trágica notícia antes que, à boca pequena, virasse fofoca, a aceitação dele conseguiu tornar o fato mais audível embora nada aceitável. Na crônica de ontem (Saúde e futebol), Paulo Sant’Ana aproveitou a grave enfermidade que lhe consome as entranhas para denunciar o descaso governamental com a saúde e a restauração dela dentre os segurados do SUS.


Ao mesmo tempo em que esse homem genial e corajoso empresta a sua dor para denunciar a dor dos outros, mais uma vez, denuncia a sua revolta contra o sediamento dos jogos mundiais no Brasil. Transcrevo o fim da crônica mencionada: “Essa ideia de trazermos a Copa do Mundo para cá é uma das maiores insanidades que conheço, apenas para realizar dezenas de partidas de futebol, a maioria delas desinteressantes, em troca da saúde e da vida de nosso povo. Insanidade.”

Não para por aí: “Haverá o dia em que os governos tomem consciência de que com o que arrecadam poderão solucionar todos os mais graves problemas de que o Brasil é alvo.

Haverá de chegar esse dia. E conclamo a todos que se unam batendo nessa tecla do desperdício do dinheiro público.


Esse ralo vai ter que acabar.

Para felicidade geral do povo brasileiro.”

Que o  grito de alerta de  Pablito  ganhe os ouvidos de quem o merece ouvir,  abra os olhos do povo que elege toda essa gente e que tanto mal vêm fazendo à pátria brasileira.

Afinal quem tem real interesse na realização dessa copa aqui no Brasil? O povo foi consultado se a queria em solo pátrio? Onde estão os grandes pensadores, os detratores, os inconformados de ontem?

Serão apenas Paulo Sant'Ana e Wianey Carlet os  jornalistas com coragem suficiente para denunciar a sua inconformidade com essa aberração e sangradouro dos cofres públicos?

A elite cultural e econômica brasileira está calada, por quê?

Os pobres nunca tiveram voz e vez. A eles, “pão e circo”! E “que tudo mais vá para o inferno”!

Quando deixaremos de ser apenas “o país do Carnaval, do samba e das mulatas (peladas)?

Não podemos e não devemos esquecer de que somos o maior país do mundo na arrecadação de impostos. Não esqueçamos  também que governantes e asseclas políticos, vereadores, deputados, senadores, secretários de estado,  ministros e apadrinhados são os maiores   queimadores do dinheiro público, (o que me lembra a Roma de Nero).

Pensem nisso!

3 comentários:

  1. Leti minha amada!

    Lamento e torço para que o sofrimento do Paulo Santana não seja tão prolongado como o foi do ex-vice do Lula , José de Alencar.

    Um batalhador que superou muitos obstáculos, sendo um maior deles a convivência com as estripulias petista e, tenho certeza que muitas vezes deve ter contestado as políticas impostas aos pobres trabalhadores brasileiros.

    Também defendo a mesma posição expressada pelo guerreiro Paulo Santana, quando foi feita a campanha para conquistar o direito de trazer a copa para o nosso país, já pensava nas perspectivas financeiras para determinados corruptos e seus vassalose contrapartida pela desgradação dos pobres que precisam de hospitais, remédios, etc.

    Os guerreiros se vão ficam suas obras e os destemperados para fazerem estripulias e não
    serem punidos, enfim é a vida... apesar dos pesares é bonita e é bonita...

    Um grande beijo, encantada com a maturidade que teu relacionamento de longos anos se transformou.
    Parabéns ao casal, essa é uma grande conquista!

    Adejane M Gudolle

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  2. Bom dia, irmãzinha querida!
    Havia jurado a mim mesma que não manifestaria mais o que penso sobre política, governo e governantes neste blog, tendo em vista que tenho, entre os visitantes, pessoas que professam seus ideais em todos os partidos.

    Motivada pelo Decésari, que acha que me acovardei, decidi pôr “a boca no trombone” quando algo me desagrada. É a velha Arlete de guerra renascendo. Sem grandes conflitos, pegando leve. Se fosse exteriorizar tudo o que penso, nossa! Não posso negar que me sinto desiludida com a turma de políticos pós-ditadura. Não estão forjando o Brasil que sonhei. Inclusive, se fosse jovem, iria embora deste país, apesar de amá-lo intensamente.
    Para sofrer menos, hoje, só leio a parte amena dos jornais, sem, no entanto, manter-me alienada. O que faço é me preservar, porque, “sangue quente” como sou, já teria infartado de tão furiosa com o que vejo, leio ou ouço. Estou na fase do “vejo, mas não enxergo”.

    Quanto ao meu casamento, sempre foi muito bem estruturado, embora cada um se mantivesse “na sua”. O bonito do hoje é que ambos vivemos mais juntos devido ao enorme tempo que nos sobra. Com os filhos longe e eu viajando menos, sobram muitas horas em nossas vidas e, por isso, podemos nos dedicar mais um para o outro. Ah! Seguimos ao pé da letra o “até que a morte os separe”. Eu continuo afirmando para o Decésari: “comeu o filé, vai roer os ossos até o final...” “Vai ter que me engolir!” Sempre. (No fundo, bem no fundo, sou uma pessoa legal!) Ahahahah!

    Mil beijos

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  3. Arlete,me pedes para comentar sobre a Copa do Mundo,já coloquei no teu blog bem clara a minha posição,sou totalmente contra e não de hoje,reafirmo o que já disse a Copa no Brasil é uma vaidade do ex Presidente,não temos as minimas condiçoes de infra estrutura e temos que escutar do Presidente da Fifa que o Brasil está mais atrazado que a Africa faltando três anos.Na minha cidade como no resto do Brasil,esgôto é um previlégio quando deveria ser obrigação do govêrno.Vamos passar vergonha,e poucos,donos de empreiteiras ficarao ricos da noite para o dia.

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