sexta-feira, 15 de abril de 2011

A adorável missão dos avós


Sempre que retorno à minha casa depois de longa ou breve estada em outro lugar, a sensação que tenho é de que (re)plantei, mais uma vez, o meu chão. Arredia a fazer visitas por natureza (e opção), dou um “boi para não sair de casa” e uma “boiada para cá não voltar”. Para eu ir a uma festa também é assim. Encontro as “mais esfarrapadas desculpas” para não ir, mas, depois que ponho os saltos altos no recinto, adoraria só abandonar o festejo até o último som  da guitarra. Na maioria das vezes, embora a contra gosto, saio da festa antes do fim porque o meu marido, por beber apenas água mineral ou refrigerante, acha tudo muito enfadonho. Com o tempo, fui me impondo e aprendi a ditar a ida e a hora da partida de encontros sociais. Aprendi também que, se disser que não vai, eu digo que vou. Acabamos indo a festas os dois. Porque convivência de casal deve ser partilhada, ou melhor, compartilhada tanto no bem bom como no não quero ir e vou.

Na recente viagem que os dois realizamos, a causa era para lá de nobre. Divina. Maravilhosa. Fingindo de papai e mamãe, enquanto os pais viajavam para assistir ao show do U Two, em São Paulo, fomos assumir os cuidados da Marianna, a nossa netinha de um ano e oito meses e a quem víramos, pela ultima vez, em dezembro, quando passou encantados dias aqui em casa. Desta vez, fomos nós à casa dela, cuja missão era de extremada seriedade e que exigia cuidados exclusivos. Nessas ocasiões, é que nos damos conta da dulcíssima missão de avós. Em dados momentos, somos duplamente pais sem, no entanto, tentarmos ocupar o lugar dos verdadeiros genitores. É nessas passagens também que aflora a necessidade de agradecer aos filhos por nos concederem a graça de nos tornarmos avós cuidadores, mesmo que por breve tempo.

Foram poucos dias que, rápido, transcorreram, no entanto a felicidade que se apossou de nós é incomunicável com meras palavras. A nossa garotinha, vista e revista todos os dias, através de fotos ou MSN, é muito mais linda ao vivo e a cores. Nas fotos, ela parece uma "mocinha". Ao vivo, nela resplandece o frescor dos bebezinhos e a meiguice da criancinha que cresce com a passagem dos dias.


Para descrevê-la, dizer que é uma verdadeira e linda  bonequinha seria muito pouco. Garotinha mimada por todos que com ela convivem, poderia ser bem outra. Mas, não! É meiga, inteligente, carinhosa e, agora que já sabe falar, é ainda mais encantadora. Cada palavra nova que aprende, ri um riso tão sonoro como se guizos badalassem, transformando-se em sininhos a festejar a alegria da descoberta. Repete a palavra nova aprendida e estabelece comparações com o que ouve ou vê. Um gênio. Fadinha e gênio. Anjo e menina. Amada e amante de quem a ama.

Vivemos, pois, num mundo encantado onde só coube lugar para o sorriso alargado e para a felicidade. Era como se o tempo tivesse parado e, nesse reino, só existiam Marianna, um emocionado avô e uma avó disponível para satisfazer todas as vontades da garotinha, que, para a felicidade de todos, não eram muitas. Outro encanto da Marianna é que ela jamais rejeita quem a está mimando como que, por não descartá-lo, evidencia-lhe a mais bela prova de seu amor. 

Nunca esquece quem lhe deu os presentes ou criou uma nova brincadeira. A tudo associa: uma cor, uma música, uma roupa... Age como se a prodigalidade houvesse lhe acelerado os neurônios e a energia. Só para na hora das refeições e se muito bem motivada pelo sabor, pelo aspecto do alimento e pela criatividade de quem a alimenta, senão... Passaríamos o resto da vida com ela, porém chega a hora da partida.

O retorno, mesmo que melancólico, faz parte da vida. A certeza do reencontro ameniza a partida. O ciclo da vida age em nós como as águas de um rio, que, mesmo seguindo em frente, estabelecem uma pausa para serem sorvidas e saciam quem tem sede de bebê-las. Em cada novo encontro, reascendemos a chama que mantém a perenidade do afeto, restaurador das energias para lutarmos pela continuidade de nossas existências, o que  torna mais aceitável a separação.

4 comentários:

  1. Oh! fessora, fessorinha!
    Meu Deus! Que texto lindo! Que avós!Que netinha!
    Sou avó também e sei avaliar tudo que são e vivem.
    Um abraço solidário.

    Carmem Lígia

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  2. Olá, Carmem Lígia!
    Encantadora como sempre! Fiquei surpresa em saber-te avó. Parabéns. O tempo passou, mas, para mim, serás sempre a aluna adolescente.
    Um grande e apertado abraço.

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  3. Nossa!! Que lindo!
    Se a MArianna pudesse ler e escrever, iria talvez escrever a mesma coisa,só que como neta, vocês deixam um rastro muiiito marcante na vida dela, parece que todos os dias e a qualquer momento a porta vai se abrir e vcs vão chegar...nestes dias cada um que abre a porta é uma decpção, no mamar da madrugada procura incasávelmente por vocês...tudo ela quer demostrar e mostrar que aprendeu com vocês....nossaaa que pena tão longe!!
    Saudades sem fim!
    Obrigada por fazerem nossa filha tão, mas tão feliz como sei que quando com ela vcs fazem!!!
    Mil beijocas!
    AMO VOCÊS!}!!

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  4. Filha muito amada!
    O mérito de a Marianna ser esse encanto é tua. Também eras (e és) encantadora.Linda, meiga, educada, um autêntica princesinha como a tua filha.
    Saiu-te e melhorada!
    Um milhão de beijos.

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