quinta-feira, 14 de abril de 2011

Beba água!



Quem bebe pouco líquido fica mais suscetível a formar pedra nos rins

As estatísticas mostram que a incidência de cálculo renal é maior entre indivíduos com mais de 20 anos. Os homens, de outro lado, desenvolvem três a quatro vezes mais pedra nos rins do que as mulheres. Quando uma delas obstrui a via urinária, a dor é terrível. A boa notícia é que hoje as pedras são quebradas com ondas de choque para que possam ser expelidas.

Por Paulo Rodrigues*

"A calculose renal, mais conhecida como pedra nos rins, é um problema comum de saúde. Manifesta-se em até 15% da população e é possível que seja tão antiga quanto a história humana. Tudo indica que a primeira intervenção cirúrgica para a retirada de um cálculo aconteceu ainda no Egito antigo, e certamente de forma bastante rudimentar. Os cálculos se formam quando alguma das substâncias presentes na urina, como cálcio, citrato, oxalato, fosfato, ácido úrico e nitratos, não é expelida do organismo pela própria urina, pelas fezes ou pelo suor e acaba se depositando em algum ponto do trato urinário - em geral no rim ou na bexiga.

São quatro os fatores que levam uma pessoa a desenvolver o problema. O primeiro é o genético, ou seja, o indivíduo já traz em seu código a predisposição para formar cálculos. O segundo fator é o ambiental. Sabe-se que nas regiões mais quentes e secas do planeta, como nas áreas desérticas ao norte da África e na Península Arábica, por exemplo, a incidência da calculose é mais alta porque a ingestão de água pelos moradores desses lugares é menor do que seria necessário. O terceiro fator é comportamental e está relacionado ao tipo de líquido que a pessoa ingere e em que quantidade. Há líquidos que no organismo reagem de modo mais favorável à formação de cálculos do que outros. Um exemplo é o suco de laranja, rico em citrato. Por fim, o quarto fator é o fisiológico, pois cada um de nós "fabrica" a sua urina de um jeito próprio e diferente, e esse jeito particular pode, naturamente, facilitar o surgimento do problema.

A ocorrência de cálculos em crianças e jovens é menor do que em adultos. As estatísticas mostram que eles costumam aparecer mais após os 20 anos, quando as pessoas estão ingressando no mercado de trabalho. Isso ocorre porque neste momento elas tendem a adquirir novos hábitos e nem sempre se inclui entre eles o da ingestão frequente de líquidos ao longo do dia. Homens adultos, por outro lado, desenvolvem três a quatro vezes mais pedra no rim do que as mulheres. Provavelmente porque "se esquecem", mais do que elas, de ter sede durante o período de trabalho.

O processo de sub-hidratação por "esquecimento" é muito interessante. O cérebro manda o sinal da sede para a pessoa, mas não é atendido, ou seja, ela não ingere líquidos. Então, manda um segundo sinal, desta vez para o rim, ordenando que retenha água. O órgão atende à ordem, mas continua liberando cálcio, oxalato, fosfato, citrato, ácido úrico e nitratos. Isso faz com que a urina vá ficando cada vez mais concentrada e tal concentração pode favorecer a formação da pedra. Na prática, isso pode ser observado por uma urina mais turva.

Quando vem a crise, a dor é terrível, como se a pessoa estivesse levando uma facada. O que causa essa dor forte não é a pedra "raspando" no interior do rim, como muitos imaginam, mas a obstrução que ela provoca. Se entope alguma parte do órgão, fica mais difícil para a urina ser drenada, o rim dilata e surge a dor.

Até a década de 1970, a retirada de cálculos era feita apenas por meio de cirurgia tradicional, ou seja, abrindo-se o abdome do paciente. Hoje, eles podem ser retirados por técnicas endoscópicas, sem cortes, que se utilizam dos orifícios naturais, ou por técnicas percutâneas, que usam só punção. Mas a grande transformação veio da litotripsia ultrassônica: um equipamento emite impulsos eletromagnéticos, como se fossem pancadas rápidas, que fragmentam a pedra em pedaços bem pequenos, de 1 a 2 milímetros, de modo que possam ser expelidos pelo fluxo urinário. Com essa técnica, hoje solucionamos cerca de 85% dos casos.

Antes de terminar, eu gostaria de deixar aos leitores duas mensagens importantes. Uma é a de que nem sempre o cálculo renal apresenta sintomas. Às vezes a pedra está lá mas a pessoa nem suspeita. Para descobrir, basta fazer um exame de imagem, como a ultrassonografia. O outro alerta que desejo fazer é o de que podem ocorrer crises de cálculo renal mais fracas. Nesses casos, como a dor passa logo, o indivíduo não pensa em investigar sua origem. Na verdade o que ocorre é que, por um mecanismo de sobrevivência, o organismo deixa de enviar os sinais de dor. Afinal, se apenas um dos rins está prejudicado e o outro está funcionando perfeitamente, por que maltratar o ser humano com a dor? Mas o fato é que a pedra continua lá, obstruindo o rim. Após algum tempo, é muito grande o risco de o órgão atrofiar. E, aí, acontece a falência renal, um problema bem mais sério e irreversível."

* Paulo Rodrigues, doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), é médico urologista do Hospital 9 de Julho, na capital paulista.

E-mail: drpaulorodrigues@uol.com.br

Fonte: Portal Caras

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