sexta-feira, 29 de abril de 2011

Apareceu no "Fantástico": gêmeos conversando

Quando assisti ao vídeo, que posto abaixo do texto,  no "Fantástico", achei-o sensacional. Hoje, mateando com meu marido, lembrou-me ele do que víramos. Não vacilei. Fui ao You Tube, copiei e arrastei o vídeo para este espaço.

Sempre fui contra exposição de crianças. É uma "gracinha" os pais exibirem-nas para visitas e amigos. No entanto, muitas vezes, ignoram que estão causando sérios traumas à inocente infância. Sofri esse tipo de exposição quando era bem pequena. Minha irmã e eu aprendemos a ler e a escrever muito cedo (frequentáramos, "espontaneamente", às aulas, desde que aprendemos a caminhar), porque nossos pais residiam no campo e nossa mãe, mulher de cidade grande,  com invejável nível de cultura, ao casar-se com meu pai, viúvo e com dois filhos do primeiro casamento, para aumentar a renda familiar, criou uma escola no meio rural.

Como as salas de aula faziam parte da casa, nós duas acompanhávamos nossa mãe-professora, que se revezava entre uma turma e outra. Esse contato diário, a repetição das aulas, a dificuldade dos alunos em aprender, típica no meio campesino, faziam-na repetir e repetir o alfabeto, as palavras, a tabuada, leituras e cantos. Foram lições preciosas e que nos ajudaram a decifrar os números e aprender as letras com rapidez incrível. Também fomos incentivadas à alfabetização por nossos pais, que adoravam demonstrar aos amigos que sabíamos ler, escrever, recitar versos e cantar. Que orgulho  eles sentiam ao mostrar para os outros os "geniozinhos", que tinham em casa!

Quando viemos residir na cidade, imediatamente nossos pais rodearam-se de um excelente e agradável círculo de amigos. Um pouco pela erudição do pai, um autodidata e pela mãe, mulher fina, elegante e culta, porque estudara no Colégio Sant’Ana, a melhor e mais tradicional escola particular de Santa Maria, naquela época (e até hoje). Um pouco, talvez, porque os visitantes se encantavam com as duas menininhas precocemente alfabetizadas. (Com o passar do tempo, os saraus oferecidos por eles aos amigos, faziam-me sentir como um macaquinho de circo).

Até certa idade, gostava dessa exposição, porque nossos pais, felizes com as filhas, premiavam-nos, cada vez que retornavam da cidade, com brinquedos, roupas bonitas, chocolates e tantos mimos que as crianças adoram. Aos poucos, fui ficando arredia e passei a detestar visitas, porque sabia como terminariam. A Aloísa, no entanto, gostava de mostrar os seus pendores aos visitantes e parentes, que a adoravam por isso, enquanto eu fui ficando cada vez mais “xucra”. Por essa "prodigalidade",  sempre fomos motivadas a estudar e a obter, nos trabalhos e nas provas mensais, tanto no primário  como no ginásio (ensino fundamental, hoje) as melhores notas. Um 9,5 era uma verdadeira afronta aos nossos estudos e egos. Por causa disso, muitas vezes,  na adolescência, ouvi minha mãe dizer às amigas: "As minhas filhas são feinhas, mas muito inteligentes! Só tiram dez na escola."

O meu temperamento cerimonioso com as pessoas e avesso a ir à casa dos outros advém dessa etapa exibicionista de minha vida. Enquanto adulta, mesmo que tenha grande facilidade para discursar em público e saiba que encantarei os ouvintes, só o faço depois de muita insistência, se houver. Senão, mantenho-me calada. Em grupos, prefiro ouvir a tecer comentários ou opiniões. Salvo se compelida... Em minhas palestras ou em sala de aula, não! Nesses espaços sagrados e singulares, exorcizo os meus demônios e me transformo. Lá *“sou amiga do rei”, recito, discurso, canto, danço, “pinto e bordo”. Dou um show! (Certamente, os meus pais aplaudiriam e pensariam: essa é a garotinha que forjamos...)

Chega de reminiscências! Vamos ao vídeo, motivador desse desabafo.



*Verso de Manuel Bandeira, de "Vou me embora pra Pasárgada" e que adoro. Esse foi mais um poema que recitava aos alunos e de memória.

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