sábado, 4 de abril de 2009

Fernando Pessoa, sobre amizade


Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvores, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

Fonte: (Fabio Rocha)

3 comentários:

  1. Olá, Arlete! É uma delícia viajar pelo teu blog todos os dias, sempre tão cheio de informações práticas e maravilhosas sugestões para que todos nós, operadores da língua, a utilizemos de forma correta, ainda mais numa época de mudanças, pela iminente entrada em vigor do Acordo Ortográfico celebrado entre os países lusófonos.

    Vendo o poema de Fernando Pessoa, lembrei-me de outro, da nossa Cecília Meireles, que também fala de infinitude - O quarto motivo da rosa:

    Não te aflijas com a pétala que voa:
    também é ser, deixar de ser assim.

    Rosas verá, só de cinzas franzida,
    mortas, intactas pelo teu jardim.

    Eu deixo aroma até nos meus espinhos
    ao longe, o vento vai falando de mim.

    E por perder-me é que vão me lembrando,
    por desfolhar-me é que não tenho fim.

    Acho lindo!

    Um grande abraço,

    Nivia

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá, Nivia:
    Quanta honra saber que visitas o meu blog! Vindo de ti tamanhos elogios, maior se faz a honraria. Saber que, além de culta, és uma pessoa sensível, que ama Pessoa e Meireles, forças maiores impelem-me a fazer novas postagens.
    Obrigada! Volta sempre.
    Um abração muito carinhoso.
    Arlete

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