Durante os nefastos acontecimentos que culminaram com a derrocada do governo Collor, nos brasileiros cônscios do momento histórico que estava se desencadeando, ficou a concepção de que efemérides similares jamais se repetiriam no país.
Para quem acreditou encontrar, nos partidos que se opunham às políticas adotadas até então, o incentivo para alavancar o desenvolvimento pátrio, restou desencanto, visto que o contexto atual está confirmando os propalados aforismos do ”dize-me com quem andas que te direi quem és” e a do “não julgues para não seres julgado”. Ambos ressaltam a pressuposição de que, uma vez instalados no poder, os governantes revelam-se algozes de si mesmos e das esperanças dos que os elegeram. Nessa autofagia precipitada para a perpetuação no cargo, maculam biografias, tenazmente construídas, esfacelam postulados de campanha, distanciam-se dos eleitores, cercam-se de pessoas de índole duvidosa e cometem ilicitudes inimagináveis.
Com Lula, passou-se a acreditar que uma nova página histórica estava se configurando: a corrupção seria, definitivamente, extirpada do governo; pessoas probas ocupariam cargos públicos; a educação, a saúde, o emprego, a segurança, a moradia seriam prioritários; os aceemes, os sarneys e os demais cancros nocivos à nação transformar-se-iam em reles coadjuvantes. Estarrecidos, os eleitores, crédulos na mudança política e que apostaram no metalúrgico, aperceberam-se ser ele o somatório multifacetado de erros secularmente acumulados, inclusive aprimorando métodos usuais, perniciosos a autênticas e saudáveis práxis políticas.
Diante de tantos fatos desairosos e graves, em quem acreditar, se os arautos da ética e da decência evidenciaram-se aquém dos criticados por eles? Como fazer de eleições o festim da nacionalidade, como buscar, no voto, a concretização de um país melhor, se os protótipos de cidadãos foram testados e reprovados? Que perfil de governante poderá ser redimensionado, para que se possa vislumbrar, mais uma vez, a salvação da pátria? Haverá saída para este gigante tão carente, tão tristemente adormecido, todavia ansioso para caminhar célere rumo a vitorioso destino?
Anular o voto nas vindouras eleições, numa demonstração massiva de descrédito político ou retomar o sonho, elegendo presidente alguém diferente daqueles que, há pouco tempo, ocuparam cargos executivos e cometeram os mesmos deslizes? Por ser um povo sonhador, não seria mais uma tentativa capaz de dar certo? Quando tudo parece perdido, faz-se necessário acreditar em milagres e, assim como a crença de que só uma educação persistente e moralizadora de futuras gerações poderá salvar o Brasil, alguém que apresente um plano de governo com metas bem definidas, tenderá a ser uma boa alternativa para tal. A maior incógnita ainda é saber quem...
Esse texto foi escrito por mim e publicado no dia 03 de abril de 2006, no Jornal Zero Hora, na página 12.
Se o tivesse escrito hoje, o enfoque não deveria ser o mesmo?
O Brasil (leia-se país político) tem salvação?
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