quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Telurismo rima com Patriotismo?


A primeira vez que tive um texto publicado em Zero Hora, a emoção foi tão vívida que senti vontade de cantar e falar com as pessoas para ouvir os seus comentários. A felicidade intensificou-se através de ligações recebidas congratulando-me não só pelo texto por mim escrito, mas por ter acrescido ao meu nome o de minha cidade e o de meu estado. Percebi que, quando se tem a origem publicada, os conterrâneos sentem-se, da mesma forma, prestigiados. Comecei a entender que as pessoas sensíveis não precisam de muita coisa para se ufanar do chão onde nasceram mesmo que incontáveis situações conspirem contra o senso pátrio. Palavras significativas e gestos concretos despertam nelas a força imperiosa e telúrica, que lhes deveria ser contumaz e inerente.

É preciso que algo aconteça como uma data importante para que aflore o orgulho de terem nascido em determinado lugar e percebam que a Pátria não é só um determinante da nacionalidade. É o solo em que plantam afetos, as pessoas com quem interagem, o singelo prazer em cultivarem flores, a magia do labor diário, a saudação entusiasmada a desconhecidos mesmo que tímida a resposta e a sensação do dever cumprido. É o elogio desinteressado, o abraço caloroso, as despedidas na certeza do reencontro, o não errar para não terem que pedir perdão, as trivialidades encantadoras da vida. Até a pressa que os contagia, a vontade de pularem etapas para mais rápido atingir os objetivos, o arrependimento de não terem tentado e a intensa emoção com a vitória ou o sucesso de brasileiros dentro e fora do país. É a saudade dos ausentes, a lágrima incontida, o telefonema adiado a quem amam e os perdoáveis deslizes do cotidiano.

São reminiscências e estranhas realidades que fazem doce o sabor da vida. Se um simples texto publicado em grande jornal causa euforia, imaginem o rufar de tambores anunciando a passagem de escolares desfilando garbosos em homenagem à Pátria, o som de violas e de gaitas gemendo vanerões e rancheiras ou o trote de cavalos anunciando a Semana Farroupilha. Numa dança festiva, vislumbrem cada cidade, cada estado, todo o país ufanando-se dos feitos grandiosos da sua gente, pela eliminação das vilanias, pela percepção de um povo educado, saudável, seguro, realizado, usufruindo das benesses geradas pelo progresso, sentindo-se orgulhosos de si e de seu país, não apenas no 7 ou no 20 de Setembro, mas em todos os dias.

O que as pessoas não querem mais é ver a sua cidade, o seu estado e o seu país envoltos em tantas irregularidades administrativas e corrupção e tudo isso as faz não encontrarem motivos para festejos. O que desejam, inspirando-se na emblemática figura de Sepé Tiaraju, é poder bradar, com galhardia, este chão tem dono! , ansiando para que o torrão gaúcho retome a condição singular de celeiro nacional e que cada um de nós seja um tropeiro do progresso sulino ou um novo bandeirante do Brasil.

2 comentários:

  1. Amiga, por motivos alheios à minha vontade, estive ausente do seu blog por longo tempo. Hoje retorno para dizer que o artigo que voce postou é digno de figurar no espaço nobre de Zero Hora e de outros jornais importantes do pais.
    Parabéns.
    Abçs.
    João Lucas

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  2. Olá, João Lucas!
    Quanta saudades de teus comentários! Andava bastante preocupada porque não mais me visitavas.
    Quanto ao texto acima, obrigada pelos generosíssimos elogios. No entanto, não creio ser dos que ZH publica. Esse é um texto que já havia editado aqui e que, por falta de tempo , republiquei-o. Não o acho dos mais expressivos e creio, Zero Hora também não, pois não tem o perfil de artigos de que eles gostam de publicar. Não ouso fazê-lo, portanto.

    Um forte abraço.

    Arlete

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