segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Saudade não tem fim...


Essa dor que corrói chamada saudade é um sentimento difícil de explicar, todavia fácil de sentir, porque bate à porta do coração a qualquer momento. Na chegada, atenua-se, fugidia, indo acomodar-se junto aos ausentes, para retornar, implacável, no momento da partida.
Será tão efêmera quão frágeis forem os sentimentos e assaz duradoura na mesma proporção da intensidade do querer bem. Viajante no tempo, vaga incontida, predispondo-se a encontrar um espaço onde possa se instalar mesmo sem pedir licença.

Os sensíveis sentem-na por qualquer motivo, até os inexplicáveis como o recordar do que não viveram, não sentiram, não compartilharam. Pressentem-na quando longe se encontram seus amores e, depois do encontro, tristes, vão-se embora. Podem sentir saudade da infância, de uma recordação trancafiada na memória, de um amigo que não aparece, dos filhos e dos irmãos distantes, dos afetos que já morreram. Saudade pode surgir, alimentada por uma música, um objeto, um gesto, uma flor.

Pode estar centrada num fato, num gestual delicado, numa história que poderia acontecer, mas que foi abortada pelas circunstâncias ou por estranhas vontades, movidas pelo condão mágico, chamado destino. Um encontro casual, um abraço, um sorriso, um gesto de indiferença, uma carta, um e-mail, tudo serve para alimentar esse sentimento que se incorpora e, muitas vezes, demorando a apaziguar-se, insiste em se alocar, em definitivo, junto aos que amam e se dispõem a amar.
Saudade da rosa vermelha, bela e única, desabrochada ao alvorecer e que, lenta e inexoravelmente, feneceu ao sol. Até a felicidade pode gerar saudade quando não se tem mais motivos para ser feliz. Como os versos da canção: “Saudade não tem fim, felicidade sim...”.
Ah! Filhos amados! Quanta falta sinto de vocês! Que saudade do tempo em que os embalava entre os braços, fazendo-os adormecer com indolentes cantigas de ninar: “Nesta rua, nesta rua tem um bosque, que se chama, que se chama solidão...” ou “Esta canção que eu canto ao luar, eu fiz pensando em você...” Até a “Lili Marlene”, que escandalizava os mais preconceituosos..., mas que, para nós, naqueles momentos mágicos, a música soava aos nossos ouvidos como tambores dando o ritmo mais acertado às batidas de nossos apaixonados corações.

Sinto saudade do tempo em que, primeiro, ao alcançarem os pezinhos nos pedais do triciclo, depois, equilibrando-se em duas rodas da bicicleta ganha no Natal, cada um na sua época, felizes, corriam pela calçada de nossa rua. Eu, encantada, segurando-os pelo carregador e vocês, sentindo-se bem protegidos, davam vigorosas pedaladas, confiantes de que eu não os deixaria cair.

Que felicidade, quando retirava as rodinhas de segurança, os largava e seguiam, meio vacilantes, porém equilibrados, pedalando sozinhos a bicicleta nova. E, depois, querendo me mostrar como bem aprenderam a lição, largavam as mãozinhas do guidom, às vezes, estatelando-se logo à frente, joelhos sangrantes, mas nenhum lágrima derramada.
Ah! Filhos amados! Quanta falta sinto de vocês...

Porque saudade não tem fim... escrevi este texto para homenagear os meus filhos e confortar todos os saudosos de alguém, de algo ou de um lugar envolto pela névoas do tempo.

8 comentários:

  1. Arlete querida.... E como não sentir saudades do q nos faz bem?!! Hj eu acordei com saudades... E, ainda q seja um sentimento "dolorido", me faz sentir viva!! Pois sei q há mta sensibilidade e amor presentes na minha vida!!! Como bem dizia Guimarães Rosa, "saudade é ser, depois de ter." Beijos mil e saudososss!! Carla :D

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  2. Arlete,lindo texto,com muita sensibilidade,estou recuperando as postagens enquanto estive fora.Está de volta o anjo numero dois.Abraços e o Chicão foi eleito,o Tiririca,Danrlei,Romário e nós ficamos impotentes com todos esses absurdos.Mas tenho esperança no Serra.

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  3. Saudades palavra bonita, mas sofrida, saudades eta saudades!!
    Mais uma linda declaração de amor a nós teus filhos que somos gratos por nos ensinar a amar, e amando sempre vamos sentir saudades!
    Saudades, saudades...saudades....sempre!!!
    Saudades maior ainda da nossa bicicletinha que quando subiamos nela o mundo era grande, nós ficavamos grandes...felizes...lembro da cena do meu sorriso e da tua felicidade gritando para toda a rua ouvir: "vai filha, tu consegue, não tenha medo...vaiiiiiiii"...que dia, mais um para ficar guardado na nossa memória!! Imagina daqui uns poucos anos nossa Duxe vivendo essa mesma cena, no mesmo lugar com a mesmo pessoa? Só a diferença que é que agora vai...Marianna a vovó tá aqui, nada de mal vai te acontecer....que lindooo!!
    Saudades, saudades, saudades!!!
    Mil beijocas!!
    Te amo!!

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  4. Oba, quantos comentários! Meu coração dá saltos de João do Pulo de tão faceiro! Vamos em partes.
    Primeiro respondo para ti, Carla. Adoro o que escreves, motivada por minhas postagens.Só não fico sabendo se gostas do que escrevo, mas, só de comentares, já fico muito contente.
    Leste o e-mail que te respondi?
    Um abração saudoso também.

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  5. Meu querido Anjo Número Dois!
    Que bom que retornaste. Andava preocupadíssima com o teu silêncio, pois sabes que és um coautor deste blog e as tuas palavras impulsionam-me a continuar. Quando não apareces, questiono-me sobre o teu desaparecimento. Que bom que estavas viajando e não sumiste por outro motivo.
    Um forte abraço.
    Volta sempre.

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  6. Daniellinha, filha amada!
    Numa de minhas tantas noites insones, ao me dirigir aos quartos de vocês, todos vazios, deu-me uma saudade do que fui, do tempo em que estavam aqui e de tua infância, quando passavas a noite toda "me vendendo picolé" e eu te aconselhando a vender para o anjinho, o coelhinho, a Raquel, a Lílian,...e tu, firme. Dê-lhe "Olha o picolé, aga suza ninguém qué!". Doida para dar uma dormidinha, sentia vontade de te dar um calmante, daqueles de derrubar gigantes, mas aguentava. No outro dia, tinha que me levantar bem cedo para passar todo o dia e um bom pedaço da noite trabalhando.Por essa e por outras que te aconselhava (depois me arrependi) a casar, mas não teres filhos. (Mãe desnaturada!)
    Emocionei-me com o que escreveste acima. Obrigada por tuas lindas recordações.
    Amo-te muuuuuuito.
    Beijos.

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  7. Oi, amiga, depois que escreveram tanta coisa bonita só me resta lhe dizer: texto lindo, lindo.
    Abçs.
    João Lucas

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  8. Bom dia, João Lucas!
    Além do dia ter nascido lindo hoje, o meu ficou ainda mais bonito com tuas palavras.
    Obrigada, amigo!
    Que tenhas um lindo dia.
    Abraços.

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