sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Imagem no espelho


Gostei muito do texto escrito pelo notável Moacyr Scliar, publicado no caderno Donna, de um  domingo que já passou, porque aborda um dos temas que mais me incomodam: a passagem do tempo e as marcas indeléveis que os anos imprimem sobre as pessoas. Envelhecer sempre foi uma das etapas que mais temi e temo.

Aceito a inexorabilidade da morte e encontro dificuldades profundas em aceitar o fenecimento da juventude. Aos poucos, vou me reciclando  na tentativa de, ao olhar-me no espelho, deparar-me com o estranhamento da imagem vista. A mulher que enxergo não sou eu. É bem outra e que me custa a aceitar.

Lendo o artigo, compilei as passagens mais significativas, ignorei outras e as  reproduzo a seguir:

“Muitas pessoas (e as histórias a respeito sempre mencionam as mulheres) costumam  mentir sobre a idade. Explicável, numa época em que a velhice é vista com condescendência para dizer o mínimo. A figura do ancião respeitado, que funcionava como o sábio da comunidade, é coisa do passado. E isso por várias razões. Em primeiro lugar, velhos já não são raros: 10 por cento da população brasileira (que sempre foi considerada jovem) têm mais de 60 anos, o limite clássico da chamada terceira idade. Antes, chegar à velhice fazia com que a pessoa fosse encarada com respeito: afinal de contas tratava-se de alguém que sobrevivera, que enfrentara com êxito doenças e o desgaste orgânico. Um vitorioso, em suma, e todos queriam ouvir suas palavras, mesmo porque o conhecimento e a sabedoria resultavam, antes de mais nada, da experiência de vida.

Hoje, sabedoria é algo que não tem prestígio: prestígio tem a informação, transmitida por uma tecnologia que os jovens dominam com facilidade (e transmitem-na aos pais e avós) daí os limites etários impostos pelo mercado de trabalho. Depois dos 40, a pessoa está fora de combate (ainda que esta regra esteja sendo questionada).

(O autor, na parte que retirei, aborda sobre como muitas pessoas tendem a negar ou a omitir a idade que têm. Embora muito bem descrito e, por  tornar esta postagem muito extensa, pularei para a parte final do texto).

Da mesma  maneira não precisamos, e não devemos, negar nossa idade. Mas também não precisamos, e não devemos, pensar a todo instante em nossos 58, ou 64, ou 75 anos. Trata-se de um pensamento contraproducente. Precisamos, sim, pensar em nossas vidas, nas coisas boas que fizemos ou podemos fazer, no trabalho, na convivência com a família, nas diversões, nos nossos sonhos. Sonhos, sim. Sonhar não é impróprio para maiores de idade.

A negação é um dos clássicos mecanismos de defesa psicológica e é vista em geral com condescendência, quando não com alarme. A pessoa que nega a possibilidade de ficar doente, que não faz os exames necessários, corre perigo. A pessoa sensata não ficará pensando obsessivamente em enfermidades, mas procurará o médico esporadicamente, ignorando os inconvenientes que a isso possam estar associados.

Os anos que temos são, em última análise, números. Quantificam a vida, mas de forma rudimentar. Há outras formas, mas muito mais satisfatórias de avaliar a nossa existência. E estas, sim, não devem ser negadas.”



"A rosa tem como estado natural, murchar. Uma vez quando nasce e aprende a crescer, outra quando envelhece e consegue morrer".

É pensando nisso que, a partir de hoje, começarei a encarar a minha imagem no espelho, de forma menos enraivecida. Estou tentando, não sem grande esforço, aprender as regras escritas na cartilha sobre a arte de saber envelhecer. No entanto, imagino, se alma tivesse, como se sentiria a rosa ao começar a fenecer...

5 comentários:

  1. Olá,penso exatamente como você. Muito interessante este seu pps.
    Uma ex-jovem

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  2. Arlete,hoje num dia "daqueles" em que me sinto mais velho,pois o que nos envelhesse são os problemas,com familia,funcionários,a politica que nos mostra que Charles De Gaul tinha razão.Mas tu tens algo que te rejuvenesse,a admiração dos teus alunos,o carinho da tua família,teus amigos.Um bom final de semana.

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  3. Boa tarde, meu querido amigo:
    O mais desconfortável dessa passagem da vida é sentir que os dias passam mais céleres e as marcas só podem ser apagadas com a morte ou...uma boa plástica. É o que farei muito em breve. Tens razão quanto a problemas,embora poucos os tive, porque a vida tem sido uma mãe muito generosa para comigo. O que chorei e choro advém de morte de meus afetos. O resto é um grãozinho de areia, pois quase nada tenho a me lamentar (só as marcas do tempo e, para sorte minha, vão se instalando em mim com critério, lentamente e nada que uma boa base da Lâncome não possa camuflar... Ahahaha!)`
    Quanto ao que escreveste, não te esqueças: "Depois de violenta tempestade, vem a bonança" e assim como o bem não dura para sempre, o mal também é passageiro. Força, portanto! Quanto ao Brasil, o povo quer que tudo continue como está. Façamos cada um de nós a nossa parte, o resto...
    Um excelente e tranquilo fim de semana para ti também.

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  4. Arlete queridaaa!!! De fato, envelhecer é difícil..., prq fica a impressão q ainda temos tanto a fazer e o tempo passa nos atropelando... Vez ou outra me assusto com minha idade e com as coisas q ainda quero fazer e penso.... será q vai dar tempo?!... Mas, aceitar minha condição interagindo com a vida e não como platéia me faz ver q tudo está acontecendo ao seu tempo. Tudo na medida do meu amadurecimento, seja físico ou emocional. Os dois caminhando juntos tornam tudo mai leve, mais jovem!!!..rs... Beijos mil!! Saudade! :D

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  5. Olá, Carla querida:
    Como escreves bem! Os teus comentários são um lindo tratado literário em que abordas as questões de forma incisiva sem perder a poética. Deves escrever outros textos e me autorizar a publicá-los neste blog. Ficarei esperando e agradecidíssima por tuas palavras que só enriquecem este espaço.
    Um beijão muito afetuoso

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