domingo, 7 de fevereiro de 2010

Meus anjinhos..

Existem crianças tão especiais e naturalmente amorosas que tudo o que fazem, mesmo algo que, em outras, causaria desconforto, nelas fica uma gracinha. Há também as que se pode denominar de chatas, mal-criadas, geradoras de desconforto para os pais. Sortuda como eu sou, as minhas eram uns diabinhos, pintavam e bordavam em casa. Na casa dos outros, ou em lugares públicos, vestiam-se de anjinhos, eram educadíssimas. E espertas.

O pai adorava levá-las ao supermercado, não lhe pediam nada, permaneciam comportadíssimas. Ele é que lhes perguntava o que queriam.

A primeira vez que foram comigo ao super, o “passeio” virou um verdadeiro inferno. Eu pegava os produtos escritos numa listinha que previamente organizara, enquanto riscava os já escolhidos, um deles colocava algo de seu agrado no carrinho também. Eu devolvia para as prateleiras. Vinha o outro e fazia o mesmo. Eles colocavam, eu tirava, colocavam, eu tirava,...


Não dizíamos nada, não brigávamos como é o comum num caso desses. Comunicávamos-nos sem palavras. Olhares de reprovação de minha parte e aparente resignação da parte deles. Tudo indicava que a cena viraria tragédia. "Se um deles me fizer passar vergonha abrindo um berreiro ou fazendo má criação, esgoelo o pestinha", pensava enraivecida e temerosa.

De repente, sumiram pelos corredores entre os produtos. Como toda cidade pequena, na época da infância deles, conhecia todo o mundo e todo mundo me conhecia. Sabiam, também, de quem eram filhos aqueles garotos. Não me preocupei, portanto.

Estava na fila do caixa,enoooorme como só sabem ser filas em sábados à tarde, esperando a minha vez de pagar o que comprara, quando um dos meninos apresentou-se com um carrinho cheio de salgadinhos, pacotes e mais pacotes de balas, caixas e mais caixas de chicletes, barras de chocolate de marcas variadas. Um monte de porcarias e, obviamente, todos os brinquedos que lhes encheram os olhares.


Apresentara-se com tudo o que antes colocaram e eu tirara do carrinho de compras e ainda mais outros produtos conhecidos deles. Sabonetes. Pastas de dente. Até uma engraçadíssima escova de fazer massagem! Desesperada, disse a ele que não tinha dinheiro para pagar tudo aquilo.

Resposta estranha: - Não faz mal!


Aliviada, pensei feliz o quanto as minhas crianças eram compreensivas.

No intervalo em que o primeiro retornava com o carrinho que eu dispensara...

Voando pelos corredores, apareceu o segundo com outro carrinho não tão cheio quanto o primeiro, mas causador de preocupação financeira. Outra vez argumentei que o dinheiro não dava para pagar o que escolhera.


Resposta: - ´Tá boooom! Ta booooom!


Nessas alturas do campeonato, muitas pessoas olhavam, curiosas, para ver no que ia dar aquela cena e a estranha correria!


Achei que o vexame havia terminado quando... Tchatchatchã!


Como um bólido, autêntico carro de fórmula um, aparece a “generala”, a caçulinha. Fora ela que, antes de saírem de casa, armara toda a estratégia de guerra a ser utilizada para me sensibilizarem...


O que ela trazia no carrinho?


Um pacote de salgadinhos dos grandes, acho que três pacotes de bolachinha recheada, um caminhãozinho, uma bola e uma boneca. Disse-me a malandrinha com os olhos brilhantes, sorriso só dentes:


-Peguei os mais baratinhos, viu, mãe! Por favor, leva! ! Ai tu vai corrigir beeem as tuas provas...


Entendi a mensagem! Principalmente naquela ênfase dada ao beeem. Meu coração antes endurecido virou manteiga, porque ela fizera o pedido com uma voz tão meiga e a promessa fora tão convincente e educada que não pude deixar de aceitar as compras deles. Rendi-me à inteligência e à sagacidade de meus meninos. Jurei, porém, comigo mesma, que nunca mais os levaria a supermercado, porque os gastos, naquele dia, foram muito além do planejado.


Como toda a mãe que deseja manter com os filhos um bom prestígio, nunca cumpri o juramento. Tentava fugir deles para não perceberem que eu iria a lojas ou a supermercados, mas...

Tenho quase certeza de que vem, dessa nossa cumplicidade, desse nosso jeito divertido de jamais sermos gatos e ratos, o carinho, o respeito, a admiração e o enorme amor que sentimos uns pelos outros.


6 comentários:

  1. Puxa! Adorei!
    Leia esse pensamento: "Amigos são anjos que nos levantam quando nossas asas estão machucadas." Não sei quem escreveu. Achei bonito para lhe dedicar.
    Um amigo

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  2. Amiiiigo!
    Puxa! Digo eu! Belíssimo pensamento. Vou colocá -lo na abertura de meu MSN. Achei lindo!
    Retribuo-te com este, do qual tb. não sei a autoria:"Sorriso é a manifestação dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procura."
    Volta sempre.
    Um abração.
    Arlete

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  3. Arlete: Recebi de uma amiga o endereço do teu blog. Passei a ler tudo que escreve, sempre. Como tu, gargalho com as piadas, choro com o que tu escreveu sobre marido e filhos. Como eu queria ser tua filha. Me adota?
    Uma fã

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  4. Ficava com medo de fazer comentarios por causa de que tu á profe de portugues, depois me encorajei quando li sobre o que tu pensa sobre a pessoa se manter anonimo no comentario que tu escreveu para outro anonimo.
    Fica bom assim?

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  5. Menina!
    Será que já não te adotei? A cada postagem que te diverte ou te comove, vamos estreitando os laços da afetividade. Se voltas todos os dias, estás em casa. Numa casa sem as estruturas concretas, mas com alicerces e paredes simbólicos que, juntas, tornamos reais. Tu, quado me lês, gostas e retornas. Eu, ao tocar as tuas emoções com meus escritos.
    Dá um abraço daqueles bem fortões à amiga que te deu meu endereço.
    Continuo de portas abertas para tie para ela.
    Beijocas.
    Arlete

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  6. Olá:
    Medo? Só se deve ter medo daquilo que desconhecemos e ignoramos a potencialidade do efeito sobre nós.
    Consegui te entender mesmo por caminhos "meio tortos".
    Não te dá prazer em ler o que escrevo? Então, deves ter é coragem de retornar e comentar oque leste, viu?.
    Sempre aprendemos alguma coisa quando abrimos os olhos para o bom, o belo, o útil
    Um abração bem encorajador.
    Arlete

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