terça-feira, 19 de julho de 2011

Adeus à juventude


Sem dúvida, a juventude é uma idade de ouro e sempre lembrada com nostalgia. É um breve momento inesquecível, romântico, vibrante, emocionante e feliz.

É uma fase feliz, vigorosa e criativa, onde tudo é novo e fresco, como uma densa nuvem no céu com nuances de rosa. Mas devemos reconhecer que essa mesma juventude tão louvada, cantada e tocante é também um momento repleto de lutas, preocupações, nuvens escuras, muitas vezes de privações, medos, ansiedades e rivalidades. É como uma corrida na qual é preciso ter concorrentes o tempo todo e vencê-los para conseguir um troféu cobiçado.

Felizmente, tanto na natureza como nos seres humanos, depois da tempestade vem a bonança. E talvez o melhor da juventude é que ela já passou.

A verdade é que sem saber quando ou mesmo sem poder definir uma idade especifica (para alguns antes, outros depois) em algum ponto impreciso da vida chega esse lapso de tempo em que tudo fica mais lento e começa a diminuir sua marcha, pousando suavemente sem pressa,dentro de nós mesmos.

O rio caudaloso se transforma em um fluxo de paz e move-se lentamente, quase sem sentir transforma–se em uma grandeza infinita profunda e imensurável, que é o final de todas as viagens e para onde vão parar todos os rios: o mar. É a maturidade. Que seja bem-vinda.

A maturidade não é exatamente o meio do dia, nem a tarde, nem a noite. Antes eu dizia que é o tempo impreciso que chega misterioso nas primeiras horas do dia, após momentos de nevoeiros voláteis que se dissolvem lentamente quando tocados pela luz do sol surgindo, assim chega: a madrugada.

É algo extraordinário. Agora não estamos mais preocupados com as tendências ou mudanças que experimentam as novas gerações. Eles estão dobrando noites, se debatendo para fazerem inovações naquilo que inovamos para eles.

Essas novas tendências e costumes não mais nos afetam, porque não somos obrigados a usar, a mudar, nem dar início a novos costumes. A nossa época já é uma justificativa para nos manter como estamos, já fizemos nossas mudanças, mas não estamos alheios ao básico e ao essencial.

No bem ou mal, não importa como, estamos na direção da reta final. Então temos tudo para comemorar, nós chegamos. Ao chegar à maturidade cessam as dúvidas e as incertezas constantes. Se  não quisermos, não precisamos mais trabalhar, ficar até tarde estudando, não precisamos mais ficar correndo atrás do ônibus na parte da manhã, apresentarmos trabalhos sufocantes de última hora, passarmos no vestibular, imaginarmos com quem se casar, onde levarmos a noiva ou nos preocuparmos em como conseguir um emprego.

Definitivamente, o que tínhamos de ser já o somos. E o que não havíamos de ser, não o fomos e nem mais seremos. Não a esta altura, disso não temos a menor dúvida. Então para que nos preocuparmos?

Para nós que cruzamos a fronteira e estamos do outro lado, colocados neste terraço amplo, silencioso e arejado, não existem correrias, nervosismo, competições, pressas, lutas ou duelos até a morte.

Nosso lugar está no palco, não no ringue ou pelo menos atrás das barreiras, a idade dos impulsos arrebatadores já terminou. Acabaram-se as preocupações, as ansiedades e as dúvidas. Isto é muito bom. Se esta é a maturidade, que seja bem-vinda.

Hoje é aquele futuro do qual estávamos tão temerosos ontem. E veja você, tudo correu bem. Afinal de contas aqui estamos nós. A conclusão é que, como já estamos na maturidade, não fazemos planos a longo prazo (e nem devemos). É necessário que agora comecemos a ver os resultados de tudo aquilo para o qual antes costumávamos trabalhar, planejar, economizar e preparar ao longo de toda uma vida. Já não temos que continuar adiando mais as coisas ou fazer planos inalcançáveis para o futuro, porque para nós está bem claro: o futuro já está aqui. O tempo não espera.

De maneira que nós também não esperemos mais. Se ainda dispomos de uma razoável saúde e ainda conseguimos andar normalmente, se ainda podemos comer quase tudo e ainda podemos desfrutar de alguns atrativos da vida, aproveitemos.

Abramos  nossos armários com porcelanas, pratarias e cristais que se tornaram lembranças e usemo-los, até que se quebrem, eles se quebram facilmente e rapidamente. Não esperemos os vinhos envelhecerem por mais um século. Para quando estão guardados? Se um ladrão não os levar, nossos netos os quebrarão. Que não tenhamos de dizer depois: tarde demais para recomeçar.

Não fiquemos esperando uma manhã brilhante e gloriosa, singular e perfeita. Se pensamos algum dia ter um barco, uma moto, um motor home, uma câmera digital, um notebook ou um tablet (se  gostamos dessas coisas e temos dinheiro para adquiri-las) podemos comprar agora, a hora é agora, não percamos mais tempo. E se estivermos planejando um dia fazer uma viagem à Europa ou às Cataratas do Iguaçu, a Havaí, ao Alasca, à China, ou mesmo para a Patagônia, muito bem! Antes que outra coisa aconteça, como uma desvalorização da moeda, uma cirurgia repentina, um AVC ou infarto, vamos logo. Estamos esperando o quê?

Eu, pessoalmente, pelo que sinto, descobri que a chegada da maturidade tem me fascinado e me enche de alegria. Estou muito impressionado, eu nunca imaginei que fosse assim. Com inusitado espanto me descubro dia a dia, novas surpresas e satisfações, as quais eu nunca sonhei que existissem. Vida, nada me deve, nada lhe devo, estamos em paz.

Adaptação do texto de Francisco Arámburo Salas

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