segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Amigos, será que os tenho?


Adoro pessoas de atitudes, que têm coragem de se despir psicologicamente. Não gosto das que agridem gratuitamente, que falam a verdade "doa a quem doer". No entanto, uma personalidade que sempre me fascinou é o Tatata Pimentel, não o debochado, mas o culto, o fascinado pela Espanha, o apaixonado pela literatura francesa, o profundo conhecedor de óperas, o cidadão erudito.

Em entrevista dada a Fernanda Zaffari, no caderno Donna deste domingo, o que me chamou a atenção foi a resposta em que afirmou não ter amigos. Essa resposta revelou o mais autêntico dos sinceros: "Não tenho amigos. É difícil de explicar. Meus amigos são psicologicamente, culturalmente e economicamente muito abaixo de mim. Eles foram atraídos por onde circulo, pelos jantares que ofereço, e, aí, começou junto com a amizade a inveja. Tenho um amigo meu, que é a única pessoa com quem dialogo por telefone, que vem eventualmente aqui e só pede emprestado DVD de ópera para copiar e ver em casa.” E continua: “Eu comento no Café TVCOM, não confundam amigo, conhecido, namorado, programa, chefe com amizade. Isso são várias categorias.”

E termina: “Eu sou muito solitário e muito sozinho. É uma faca de dois gumes. Há momentos em que quero conversar, falar e não tenho com quem sair. Então transformei isso em neurose. Fico em casa, que é onde tenho tudo o que quero e preciso. Eu pensava muito em futuro, mas, na minha idade, só pensa daqui a 20 anos um débil mental. Não penso em futuro, só penso no dia de amanhã.”

Por que me detive na entrevista de Tatata Pimentel? Porque, em alguns aspectos, identifiquei-me com a visão deles sobre amigos. Será que os tenho? Amigos verdadeiros, aqueles que chegam de surpresa, por simples saudades e sem nenhum motivo? Aqueles que choram nos momentos negros e sorriem com a gente nos dias ensolarados e de pura felicidade? Aqueles que convidam para ir a sua casa? Que retribuem as gentilezas recebidas?

A resposta é Não! Um redundante Não! Não por arrogância, mas por me dedicar, com enorme empenho ao trabalho, afastei muitas pessoas amigas. Porque sempre fui avessa a fazer visitas, embora adore recebê-las, deixei de conviver com que gostava e admirava. Hoje, quando quero conversar com alguém com mais tempo e intimidade, convido a pessoa a quem estimo para vir à minha casa.

Nessas ocasiões, enfeito cada aposento como se fosse realizar uma grande festa. E, para que as pessoas convidadas, parentes ou não, percebam a importância que dou a suas visitas, encomendo saborosas iguarias, coloco belas flores nos vasos e as recebo com honras e pompas. Em contrapartida, jamais recebi convite para retribuir a visita. Será que o excesso de zelo e a formalidade com que  recebo essas pessoas  inibe-as ou não são minhas amigas, são meras conhecidas?

O mais trágico disso tudo foi que, por duas vezes, DUAS, passei dois dias preparando-me para receber amigas (uma de cada vez) e não apareceram. (Depois, comunicaram-me que se esqueceram do convite). Para compensar, vesti a minha roupa mais bonita, maquiei-me com esmero, fiz um belo penteado, calcei o mais alto dos sapatos, fiz tocar belíssimas músicas, abri um champanhe reservado para o Natal e fiz, comigo mesma, uma espetacular festa de reencontro.

Eu jamais perderia os aprontes. E acreditem, não me senti infeliz por isso. Perderam elas. Os presentinhos que comprei para selar a visita, guardei-os para, quem sabe, oferecer-lhes ao vivo e a cores porque sou teimosa e não me rendo às evidências.

Apesar de tudo isso, em 2011, vou receber mais, telefonar para os distantes, mandar recadinhos por este blog, mostrar que gosto das pessoas e que ADORARIA conviver mais com elas. Solidão? Deixo para o Tatata que deve se sentir como o "barqueiro"da imagem lá de cima.

Além do mais, todo o mundo sabe que o cultivo das amizades exige o mesmo cuidado ao dedicado às flores. Se não forem regadas na época certa, com muito cuidado e frequência, fenecem e morrer, portanto...

Ah! Vale a pena ler a entrevista de Tatata Pimentel, essa personalidade tão diferenciada! (Caderno Donna, encartado em Zero Hora, de domingo, 16 de janeiro de2011).

3 comentários:

  1. Você tem amigos, sim. Pelo menos eu sou um, virtual, mas eu já a considero uma grande amiga. Espero que a recíproca também ocorra.
    Abçs.
    João Lucas

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  2. MInha querida bichinha, li esta matéria pelos mesmos motivos que os teus, gosto e não gosto dele...engraçado isso, mas a questão da amizade é interessante tudo o que tu descreveu, pois essa é a Arlete que conheço dedicada ao trabalho e deixando de lado as pessoas...na verdade não as pessoas, mas deixando de lado a ti mesmo. Então quem sabe é a hora do recomeço, pois sempre que sai gosta e não quer voltar, então para que na próxima postagem diga que tem bons amigos, busque-os!!!
    Beijos!

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  3. Que puxão de orelhas, hem? Mas não achaste que estou bem "melhor"? O pior (ou o bom) disso tudo é que estou adorando a "vagabundagem"! Tudo o que é bom acostuma... Ahahahah!

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