terça-feira, 19 de junho de 2012

Grito do Ipiranga: a verdade

Existem fatos históricos que são verdadeiros arranjos para não emporcalhar a vida e a circunstância em que ocorreram. Segundo li em algum lugar e, por fazer muito tempo, não sei definir onde e relatado por quem. Mesmo assim, aqui farei um breve relato sobre uma de minhas descobertas sobre as controvérsias que envolvem certas pretensas verdades históricas. Refiro-me ao famoso quadro de Pedro Américo, popularmente conhecido como O Grito do Ipiranga.

No trajeto entre Santos e São Paulo, Dom Pedro I recebeu uma mensagem oriunda de Portugal. O príncipe leu-a, irritou-se e decidiu proclamar a Independência do Brasil. Isso todo mundo sabe de cor, por isso, a imagem que nos vem à mente ao imaginarmos a cena é aquela encomendada ao pintor Pedro Américo em 1886, mais de 60 anos depois do acontecido.

Na belíssima pintura, podemos detectar erros diante da verdade histórica. Todavia, essas falhas não se devem à distância temporal ou ao desconhecimento do pintor sobre como os fatos realmente aconteceram. Ele conhecia a verdade histórica, porém defendia a sua camuflagem com a argumentação de que " A realidade inspira, e não escraviza o pintor".

Pedro Américo era, ainda, conhecedor de que não se subia a serra montado em garbosos e elegantes alazões e, sim, em lombos de jegues. Sabia também que a viagem longa e cansativa exigia que os soldados que faziam a escolta e a proteção de Dom Pedro, usassem trajes simples, de serviço, jamais uniformes de gala como aparece na pintura.Todo mundo sabe, hoje, que aqueles uniformes imponentes somente foram criados três meses depois.

Por outro lado, os "chefões" do Romantismo acharam importante que o riacho Ipiranga, que destaca o acontecimento de O Grito do Ipiranga, aparecesse na obra. Nem que, para isso, fosse realizada "quase insignificante violência topográfica", ao se mudar o curso das águas para emprestar mais imponência àquele acontecimento histórico.

Os românticos argumentaram que a indisposição estomacal (cólica para os mais letrados, dor de barriga para os populares e caganeira para os desbocados!) não deveria transformar-se em história, mesmo que o pobre coitado estivesse sofrendo com uma diarreia das brabas.

À boca pequena, corre pelos labirintos escondidos da história de que esse foi o real motivo da parada do príncipe e de sua comitiva. PA defende a sua omissão com este argumento: "Se tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu a atenção do cronista, ela é indigna da história, contrária à intenção moral da pintura e, por consequência, imerecedora da contemplação dos prósteros".


Para recordar:

E VIRGULADO

A conjunção E tem dois valores gramaticais: ou serve como nexo aditivo ou adversativo.

Vejam os exemplos:

O príncipe leu-a, irritou-se e decidiu proclamar a Independência do Brasil.

Aqui, o E é uma conjunção ADITIVA e não precisa de vírgula por ter, em ambas as orações, o mesmo sujeito = o príncipe.

O mesmo ocorre em "Se tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu a atenção do cronista, ela é indigna da história, contrária à intenção moral da pintura e, por consequência, imerecedora da contemplação dos prósteros".

Nesse caso, o autor da frase, Pedro Américo, quer enfatizar a ideia, por isso emprega uma vírgula que poderia ser dispensada.

Também o E pode ser virgulado mesmo que ADITIVO, quando a oração antecedente e a que lhe segue tiverem SUJETOS DIFERENTES:

A realidade histórica é uma , e os acontecimentos que a reproduzirão podem ser distorcidos para não a denegrir.

Já em " A realidade inspira, e não escraviza o pintor", o E está antecipado por vírgula por ser uma conjunção ADVERSATIVA, ou seja, pode ser substituída por MAS.

Estamos entendidos?

5 comentários:

  1. Profe,quando se usa vírgula depois do e? Sempre fico na dúvida.
    Já fui tua aluna e tu havias explicado isso em aula, só que esqueci! Pra não sair mal na "foto" não vou me identificar e tb. fiz um rascunho deste pedido. Sei que continuas bem exigente no que diz respeito a acentos, vírgulas e grafia.
    Tenho te visitado sempre que posso.Um abração.

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  2. Olá, aluna querida:
    Que pena que não te identificaste! Adoraria saber quem és. Serás uma professora também?
    Quanto ao e virgulado, a vírgula é empregada em período longos em que já se usou outras vírgulas. Ex.: Tive muitas e ótimas alunas, excelentes amigas, entretanto não se identificam aqui, por isso, fico triste e, para me conformar, dou-lhes "um puxão de orelhas" carinhoso.
    Entendido?
    Um caloroso abraço

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Esse mundo é feito de ilusões mesmo!!! E daqui não pertencemos.Tanta franqueza .tudo certo para tanta hipocrisia,se somos corretos padecemos no mundo dos ignorantes e se somos ignorantes padecemos no mundo dos corretos, estamos entrelaçados isto é só
    Conforme seu titulo, palavras ao vento abraços
    Angela

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  5. Angela querida!

    Mascarar os fatos históricos sempre foi o papel dos histpriadores e de todo tipo de homenagens históricas. Se os acontecimentos fossem contados, exatamente, como aconteceram, a História da humanidade seria bastante decepcionante e triste.
    Adorei o teu comentário.

    Volta sempre.

    Um abraço.

    Arlete

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