domingo, 17 de junho de 2012

A educação e a psicologia - primeiro artigo em Zero Hora


O homem moderno sofre diversificadas formas de pressões tecnológicas, científicas, econômicas e sociais. Para tanto, o alargamento do saber torna-se imprescindível, a fim de que possa sobreviver sem se deixar emaranhar nesse caos. Na insôfrega tentativa de sobressair ao aniquilamento, muito pode contribuir a Psicologia, preocupada em compreender e modificar ações comportamentais, enfatizando o interacionismo do indivíduo através de níveis psicossocial, psicofisiológico, existencial ou transcendente. Até que ponto a escola auxilia-se dela para facilitar ao homem o seu crescimento intelectual?

Muitos professores não se valem da Psicologia em seu trabalho ou quando o fazem, não a utilizam de modo convincente, desperdiçando conhecimentos que poderiam solucionar problemas relacionados ao interesse, à atenção e à maturidade do aluno. A motivação, a autodisciplina ou a própria Psicologia são utilizadas como recursos coercitivos e não como instrumentos eficazes para a aprendizagem, que depende do próprio aluno. Aquela pode ser influenciada positivamente, desde que dela participem pessoas hábeis, auxiliadas por estímulos e técnicas adequadas. Constata-se que, pela metodologia anacrônica e tradicional do ensino utilizado ainda hoje nas escolas, uma parcela ínfima das aptidões e da capacidade de aprender é explorada.

Muitas são as causas que entravam o desenvolvimento integral do indivíduo e que não se questionam na escola. Tensões, angústia, carência afetiva e alimentar, ambiente familiar adverso, religião, problemas de motivação, ausência de pré-requisitos dos conteúdos a serem ministrados, comunicação, conflito entre o real e a fantasia, perda de direitos e satisfações pueris, incerteza do próximo estágio, sensação de dependência, necessidade de provar a si mesmo como membro adulto e sentimento de incompreensão na adolescência fazem com que o aluno se decepcione com seu desempenho escolar. Além disso, o interagir do professor pode servir como barreira intransponível, quando o aluno se depara com docente mal humorado, que não planeja atividades, intolerante ou exigente demais, injusto nas notas ao elaborar provas difíceis; grita muito em classe, ignora a sensibilidade grupal, não se interessa por seus problemas, não tem controle da classe a não ser pelo autoritarismo, foge dos questionamentos, utiliza métodos e técnicas ultrapassadas, conteúdos inúteis e dissociados de sua realidade levam-no a desinteressar-se pelos estudos.

Não é chegada a hora de a escola valer-se da Psicologia para redescobrir e canalizar suas forças internas através de relações cooperativas, geradoras da confiabilidade fundamental no inter-relacionamento professor-aluno, levando-os a mudanças de atitudes, responsáveis pelo desenvolvimento integral do educando?


>>>Publicado dia 15 de dezembro de 2004, Jornal Zero Hora, página 17.

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