Palavras ao Vento é fruto de uma necessidade interior de corrigir deslizes orais ou escritos, presenciados no cotidiano; mostrar a urgência de se fazer da educação prioridade nacional; discorrer sobre trivialidades, mostrando o porquê disso ou daquilo e destacar a força que a palavra tem naqueles que captam o sentido das entrelinhas.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
O FLAUTISTA E O SOM DE UM VIVER
Faz tempo que ando ouvindo um acorde de melodia que inunda a rua onde moro. Sempre, no horário após o meio dia, esse som invade minhas sensações. Olho pela janela e o vejo. Tão melancólico e quieto, tem as mãos agarradas a uma flauta e, de seu sopro, também vem uma sensação de querer viver... Vai se esvaindo, exaurindo e, de repente, o flautista aquieta-se.
Essas percepções são reais, não são devaneios de quem, por ora, põe-se a imaginar um lugar e uma pessoa, falo de um ser humano, ali sentado no fio da calçada, na rua em que moro. Os pingos da chuva caem devagarzinho e, com eles, também trazem a melancolia do flautista. Como posso falar de melancolia, se daquela flauta, meio mágica, o som da vida emana ou será da tristeza?
Ainda não consegui compreender ou sentir o que ele com sua flauta querem falar, mas penso que das notas vem uma liberdade misturada ao desejo, a um quase pedido de socorro: ajudem-me a compreender o meu viver!
E nesse embalo tão triste, ponho-me a pensar nas pessoas iguais a mim, que caminham pelas ruas, quietas, sorridentes, guardando segredos e emoções que despertam o meu pensar nessa mágica meio louca, que é o viver humano.
Certamente, o flautista anda triste, seu semblante me lembra a inquietação, sua flauta grita notas tão distantes que não alcançam minha modesta compreensão. Decidi que não quero mais procurar as explicações do som do flautista, ando a procura da sensibilidade, que me aproxima de sua infinita arte. Sim, arte que emana das notas de sua flauta e que me convidam a dialogar com suas lúcidas, ou não lúcidas sensações e prazeres dessa vida de que também faço parte.
Pessoas, amigos, desconhecidos todos andam, correm, vão e voltam por ali e por cá. Será que todos temos um pouco desse flautista inquieto, que desinquieta minhas sensações? Olho-o e me pergunto insistente: será que ele é feliz? E eu sei o que é ser feliz? Sua tristeza será a tristeza que sinto? Que maluquice essas palavras, essas sensações, mas são essas as ideias que sua flauta me desperta.
Quando fecho meus olhos, abro meu coração e o som da flauta, todo dia, chega aos meus sentidos, compreendendo aos poucos que muitas coisas são inexplicáveis, são meio mágicas. São a vida que se apresenta na figura de um flautista, meio moribundo, que gente como eu, também, se angustia, se entristece, e vive. E, do sopro de seu viver, sua flauta grita a liberdade, a tristeza, o amor, sei lá, acho que diz que viver é assim meio mágico, meio trágico, quem irá entender.
É preciso às vezes desarmar nossas vestes de proteções, que nos fazem surdos ao som de flautas meio inquietas, que andam com flautistas pelos fios das calçadas de nossas ruas. É necessário, por momentos, descobrirmos o quanto somos humanos, e ser humano, na vida de hoje, ao som de uma flauta, faz com que eu perceba que é preciso soltar as sensações para que, mesmo sem tocar a flauta do flautista triste, que ouço de minha janela, ele me ajude a descobrir os sons que sei tocar nas jornadas andarilhas do meu percurso, mesmo sem flauta, mas com a esperança de soprar notas de liberdade e sensações de um viver feliz!
Foi esse texto que me inspirou a escrever "A borboleta amarela". A criação inspiradora prima pela sensibilidade, pela capacidade ilimitada em captar as palavras escritas nas entrelinhas da vida. Somente uma pessoa dotada de olhos e ouvidos sempre atentos poderia transformar, em concreto, os sons, as imagens esparsas e os estranhos viveres escondidos nos caminhos tortuosos do existir.
A autora dessa beleza poética é Cinara Dalla Costa Velasquez.
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tenho notado nas visitas que faço no seu blog uma certa angustia e vontade de liberdade,moro na sua rua e nao escuto o flautista,nao estara a sra oprimida e com inveja das borboletas que voam para lugares que a sra.tem sonhado e não os alcança,sinto o seu coração oscilante,creio que a ansiedade da chegada da neta esta fazendo uma perturbação no seu dia a dia.até
ResponderExcluirOi, vizinho anônimo:
ResponderExcluirSe tivesses prestado um pouquinho mais de atenção,terias visto que o texto sobre o flautista não é de minha autoria. É da Cinara. Serviu para eu escrever a borboleta, inspiração para dar "uma marretada " na sujeira que virou o Brasil com seus políticos e governantes. Essa é a minha angústia:nada poder fazer, só denunciar,mesmo que me valendo de uma borboleta amarela (a cor do Brasil!). Lê de novo os dois textos. E volta...
Um abraço.
Arlete
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcluir comentário de: Palavras ao Vento
ResponderExcluirBlogger arlete disse...
Ainda para o vizinho anônimo:
A inveja que tenho das borboletas é de não poder "fugir" deste país tão tristemente roubado como o nosso "consentimento",quando nos calamos diante de tanta volência,roubos,corrupção.....Um país sem vergonha na cara(traduzindo:país = povo e governantes!) Povo que vota nessa gente tão sem amor pátrio e desavergonhada...
É por isso que escrevi a borboleta amarela.
Entendeste?
Arlete