sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Onde nasce a corrupção



Quando nos mudamos, em 1981, para casa onde vivemos até hoje, depois de plantarmos o meu marido e eu, mudinha por mudinha, todo o gramado que abraça a nossa casa, plantamos, também, belíssimos amores-perfeitos, que adornavam os murinhos ao redor dela. Ao levantarmos, a cada nova manhã, constatávamos que haviam arrancado mudas de grama e muitos pés da indefesa florzinha. Como não havia floriculturas na cidade àquela época que vendessem flores para serem cultivadas em jardins, tentamos não agregar muita importância ao fato de estarmos sendo roubados.

Teimosos, replantávamos tudo. Cansados da repetição do ato, passamos a vigiar para ver se flagrávamos o suposto ou supostos ladrões. Por uns tempos, tudo ficou nos devidos lugares até que a cena grotesca voltou a se repetir. Desistimos, pois, da vigília. Numa noite de lua cheia, em que se podia ver com muita nitidez qualquer pessoa que invadisse o nosso espaço, embora, pela ousadia, acreditasse estar sendo  encoberto pela noite, surprendemos o ladrão. Para nossa surpresa, os larápios eram duas meninas.

Pegas de surpresa, confessaram que estavam ali a mando da mãe, que achava linda a nosssa casa e as flores nela plantadas. Fazer o quê? Chamar a polícia para dar um corretivo nas garotinhas, chamar a mãe delas? Resolvemos torná-las nossas aliadas. Demos algumas mudas para que levassem à mãe e as encarregamos de nos ajudar a vigiar a plantação no intuito de evitar futuros roubos.

Passados 30 anos, o fato voltou a se repetir. Agora nas floreiras que emolduram as janelas da casa. Nesta fase, não mais se justificam os roubos, se é que roubo pode ser justificado, já que existem, na cidade, duas bem sortidas floriculturas. Nos meses de agosto e setembro, a cada dia, faltava um pouco das florezinhas. Retornamos à vigília. Estarrecidos, flagramos um senhora idosa com uma sacola quase cheia de mudas de pingo de ouro, a linda sebe que faz o papel de muro da casa e alguns amores-perfeitos. Desta vez, quem morreu de vergonha fomos nós, porque era pessoa conhecida.

Hoje, perto do meio-dia, quatro meninas estudantes da escola vizinha entraram na área onde cultivo um lindo vaso com flores coloridas e já se encontravam prestes a executar o furto, quando, alertada pelo latido enfurecido de nosso cachorro, o Sheik, abri a porta e me deparei com as meninas. A que já arrancara uma muda da flor, justificou-se alegando que ia pedir licença para colher as florezinhas. As outras três saíram em desabalada correria.

Mostrei para a que fora pega em delito, que aquilo era roubo e que iria denunciá-la à direção da escola. A garota me desarmou, pedindo-me mil desculpas, afirmando que jamais iria repetir o feito. Nesse momento, mais uma vez, dei-me conta de que, no fundo, somos todos ladrões. Ao colhermos uma flor que seja, estando ela em lugar público ou privado, sem o consentimento do responsável ou dono dela, não deixa de ser um furto. E quem já não fez isso ou surrupiou algo que não era seu, mesmo que em única vez? "Quem não tem pecado..."


Constatei, com base nisso,  que a corrupção, que eclode por todo o Brasil, tem fundamento na infância e parece estar arraigada à índole de um significativo número de brasileiros: havendo oportunidade “metem a mão na cumbuca”...

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