quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Oswaldo Montenegro, A lista e Metade




METADE

Oswaldo Montenegro

“E que a força no medo que eu tenho, não me impeça de ver o que

anseio.


Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.


Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é


silêncio. Que a música que eu ouço ao longe seja linda ao invés de

tristeza.


Que a mulher que eu amo seja prá sempre amada, mesmo que

distante.


Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.



Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, e nem


repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que

resta a um homem inundado de sentimento.


Porque metade de mim é o que eu ouço, e a outra metade é o que

calo.


Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na

paz que eu mereço.


Que essa tensão que me corre por dentro seja um dia

recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso, e a outra metade é um

vulcão.


Que o medo da solidão se afaste.


Que convivo comigo mesmo e se torne ao menos suportável.


Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que me lembro

ter dado na infância.


Porque metade de mim é a lembrança do que fui, e a outra metade

eu não sei.


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria, prá me fazer

aquietar o espírito.


E, que o teu silêncio me fale cada vez mais.


Porque metade de mim é abrigo, e a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e

que ninguém a tente complicar.


Porque é preciso simplicidade para fazer florescer.


Porque metade de mim é platéia, e a outra metade é canção.


E, que a minha loucura seja perdoada.


Porque metade de mim é Amor e a outra metade...também!”

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