segunda-feira, 5 de março de 2012

*O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA*




Uma boa reflexão para começar a semana. O artigo é longo, mas vale a pena ler e refletir.

(Tu, caro visitante, não fazes parte daquele seletíssimo grupo: os preguiçosos mentais, que só leem o que é bem curtinho, não?) Então, à leitura!


O texto abaixo recebi da Holanda, a outra avó do meu neto Andrei. Pessoa de grande sensibilidade e inteligência, só me envia, por e-mail, coisas fantásticas como este artigo. 

"Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.

Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais ' O cravo brigou com a rosa''.

A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais.

Na nova letra "o cravo encontrou a rosa / debaixo de uma sacada /o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.

Será que esses doidos sabem que 'O cravo brigou com a rosa' faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos!!!!!!

Outra música infantil que mudou de letra foi 'Samba Lelê'.

Na versão da minha infância o negócio era o seguinte:

Samba Lelê tá doente / Tá com a cabeça quebrada / Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas.

A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê.

A tia do maternal agora ensina assim: 'Samba Lelê tá doente / Com uma febre

malvada / Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar'.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca!!!

Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo.

Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: 'Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz'.

Comunico também que não se pode mais 'atirar o pau no gato', já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos.

Quem 'entra na roda dança', nos dias atuais, não pode mais ter 'sete

namorados para se casar com um'. Sete namorados é coisa de menina fácil.

Ninguém mais é 'pobre ou rico de marré-de-si', para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém (não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, 'Pai Google da Aruanda'), foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado.

Qual é o problema da frase 'Ecologia', de fato, era vista como coisa de viado.

Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de veado?

Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice.

O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de veado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil de 'deficiente vertical'.

O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) – só pode ser chamado de 'afrodescendente'.

O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um 'cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente'.

A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a 'dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade'.

O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o 'cidadão que está fora do peso ideal'.

O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito.

O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho.

Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha 'necessidades especiais'...

Não dá.

O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol.

Ao invés de mandar o juiz pra pqp e o centroavante pereba tomar no--, cantaremos, nas arquibancadas, o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais.

O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura.

A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.

Defuntos?

Não. Seremos os 'inquilinos do condomínio Cidade do pé junto'...

Um comentário:

  1. Definitivamente não sei onde as coisas vão parar e sinceramente tenho medo, estão transformando coisas naturais como ser chamado de gordo, branquela, careca, viado, em absurdos de outro mundo. Tudo que se é dito agora viro preconceito, nossa da qui a uns dias não vamos nem pedir "pão moreninho", vamos ter que pedir "pão afrodescendente"?...

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