terça-feira, 24 de agosto de 2010

Histórias que vivi 1


Inicio hoje a contar fatos engraçados de minha vida. César Augusto, filhos e amigos, acostumados com esse meu lado esquisito, sempre ficam esperando que eu apronte alguma. Sou tão desligada e distraída que, para me defender, sempre digo que a minha melhor amiga poderia compartilhar a cama com meu marido que eu nem notaria.
Iniciarei os relatos sobre histórias inusitadas que já vivi por uma das mais recentes, embora do hoje até o acontecido já tenham transcorrido alguns anos.
Soou a campanhia da porta. Era uma vizinha pedindo-me donativos para a festa de Santa Rita de Cássia, cuja igreja fica num bairro próximo à minha casa. Conversamos animadamente e eu lhe prometi que iria à procissão em homenagem à Santa e depois assistiria à missa que se seguiria ao cortejo. Como palavra por mim empenhada é palavra cumprida, no dia 22 de maio, meia-hora antes, dirigi-me para a localidade de onde sairia a procissão. Quando lá cheguei, havia um grande número de pessoas e carros pelas ruas que circundavam a igreja. Precisei estacionar o carro bastante longe. Naquelas alturas, pensei, "teria sido muito melhor ter vindo a pé!" Nem mesmo a longa caminhada, equilibrando-me nos saltos altos, arrefeceu a minha felicidade por estar fazendo algo que, há muito tempo, abandonara: a religião.

Com uma fé que imaginava não mais possuir, acompanhei os fiéis por todo o trajeto até a entrada da igrejinha. Quem me via, ficava surpreso de eu estar ali, cantando e rezando animadamente. Foi uma recaída “eclesiástica” a que fui acometida. O bom da história é que, naquele ambiente místico, senti-me muito bem e feliz. O rolo aconteceu no fim da festa religiosa.

Como nunca mantive uma vida social intensa, nas ocasiões em que saía, aproveitava para conversar com amigos, o que implicava um bom tempo para eu retornar a casa. Feitas e aprimoradas as relações sociais, saí em busca do carro para retornar. No meio daquela multidão de pessoas e automóveis, não conseguia me lembrar onde estacionara o meu.

Procurando manter os nervos sob controle, caminhai por toda a cercania e nada. Por ser um acontecimento que envolvera, como já dissera, grande concentração de pessoas, encontrava muitos conhecidos, ia conversando com eles para ver se me lembrava onde deixara o automóvel. Chegou um momento em que entrei em desespero. Quanto mais buscava, não encontrava o veículo. Quem me via caminhando de um lado para outro, perguntava-me o que procurava, a que lhes respondia "meu carro!" Eles: que cor é o teu carro?. Eu: “vermelho!” E dê-lhe procura.

Nervosa e cansada, lembrei-me de que o meu filho Vinícius viera passar o fim de semana em casa (estudava em São Leopoldo). Dirigi-me, quase correndo até a minha residência em busca da ajuda dele para me auxiliar na busca. Já estávamos perto do local, quando o mesmo me questionou se eu havia procurado bem. Nessas alturas, já estava imaginando que fora roubado e os ladrões andavam longe!

Cansadíssima e com a consciência pesada por ter arrancado o meu filho da convivência com o pai e amigos, tendo que abandonar o churrasco que faziam, em silêncio, o acompanhava. E a pé, empreitada raríssima em minha vida. As ruas ainda estavam abarrotadas de carros. Num lugar distante, em rua lateral à igrejinha, um reluzente Fiesta brilhava ao luar. Meu filho, furioso, se sai com esta: “Mas, mãe, está li o nosso carro!” Eu: “Não, meu filho, o nosso é um cadete vermelho! Vamos à polícia!”

Vinícius, às risadas, pediu-me que eu lhe entregasse as chaves do carro e que eu o esperasse em frente à igreja. Entreguei-as a ele. Como demorava, resolvi sair-lhe ao encontro. Não o vislumbrando, imaginei que, talvez, tivesse ido em busca de brigadianos para solicitar ajuda ou comunicar o roubo do automóvel.

Já andara uma quadra, retornando para casa, quando um garoto, num carro brilhante, com voz esganiçada, chamou-me assim:"Oi, Boazuda! Entra aqui!" . Como era noite, não lhe dei importância. Ao contrário, passei a temê-lo, visto que ia até o fim da quadra em que eu andava e voltava, passando por mim e gritando com a mesma voz estranha: "PSIU! Gostosa! PSIU! Boazuda!"

Eu nem olhava, continua sempre em frente e, cada vez, mais nervosa! Naquelas alturas, para não chorar, comecei a rir baixinho. Ao perceber a insistência do motorista, imaginava que era alguém me confundindo com as mulheres de vida “airosa”, tal era o adiantado da noite. Tentando não perder a compostura e manter o bom astral, falava com meus pensamentos: “Quem será a mãe desse tarado que não o ensinou a respeitar senhoras na rua? Ainda bem que ensinei cavalheirismo a meus filhos, mas, se esse idiota continuar me seguindo, vou fazer dupla queixa na polícia: roubo de veículo e assédio sexual!”

Já perto de casa, o medo aumentando cada vez mais, um carro estacionou no lado oposto e um pouco à frente da calçada por onde eu caminhava. Falando com voz imperativa, disse-me o garoto: “Agora, chega, mãe! Já te judiei bastante por tua distração!”

Foi naquele momento que me dei conta de que o garoto "tarado" era o meu filho e o carro que ele dirigia era nosso. O meu marido havia trocado o Kadett vermelho por um Fiesta dourado, um dia antes. O problema foi que eu havia me esquecido disso...


7 comentários:

  1. oi mana!

    Apesar de um pouco triste por ser o dia em que a mamãe Zaida partiu consequiste arrancar risos compulsivo e a rolar lágrima ao me divertir com tua façanha, neste levaste o troféu do ano. Ahah, a outra que me lembro foi sobre o falecimento do Sr. Tusi ...
    Obrigada,
    Adejane

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  2. Olá, irmãzinha:
    Até o dia está muito triste aqui. Realmente, passou rápido! Um ano sem a Zaida, ou melhor, dois anos e dois meses. Quero dizer, desde o aneurisma até o falecimento, a sensação é de que a havia perdido prematuramente.
    Em tua homenagem, vou escrever a "mancada" com o falecimento do Sr. Tusi, que, na verdade, é Tamiosso. Aguarda!
    Um beijão.

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  3. Pior é que é tudooo verdade...rimos por anos dessa história...e ainda continuamos rindo...sensacional...para ver como ela é destraída, até hoje, que o cadete era bordô e o carro era um TIPO dourado...e na foto mostra uma Palio prata....ahahahahah....essa é minha mãe....píor é que a herança genéticas as vezes me pega, quando vejo estou fazendo coisas parecidas e meu marído´só me diz: hoje a dona arlete está encarnada...ahahahahaha
    Beijocas!!

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  4. Filhinha amada:
    Já andava com saudades desses teus comentários.
    O carro do esquecimento não era um Fiesta? Ou era um Palio importado?Que trapalhada.
    Para consolo meu: não foi só esse lado negativo que herdaste de mim. Há outos positivos também, não? A alegria, a generosidade, o coração sempre disposto a dar e receber amor, há outros?
    Um beijão.

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  5. Ainda: Herdaste de mim o amor sem limites pela família, a capacidade de jamais guardar mágoas,o correr atrás do que almejamos e uma vontade louca de viver e ser feliz. É pouco?

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  6. NEM UM POUCO....ISSO É TUDO DE BOM...principalmente a vontade louca de ser FELIZ!!
    E graças a deus essa herança genética continuou na nossa bebê...ela é tudo isso tbm!
    Te amo!

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  7. Amada! Linda! Minha estreloooooooooooooooona!

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