
Fiquei feliz com o reconhecimento dela. Perguntei-lhe como estava. Foi o meu erro. Desfilou um rosário de queixas e lamentos. Enumerou-me todas as doenças a que fora acometida. Falou mal do marido, dos filhos, do trabalho, das amizades. Só não pôs defeitos no cachorro, porque, provavelmente, nunca o teve.
Ouvindo-a, dei-me conta do quanto a vida tem sido generosa comigo e o quanto sou feliz, apesar de levar uns "trancaços" de vez em quando, como se fossem pequenos alertas de que nem tudo são rosas ou a fadinha do destino me sussurrasse aos ouvidos: Acorda, amiga! Felicidade em tempo integral não existe!
Foi pensando nessa minha amiga, antes tão adorável; hoje, uma pessoa tão amarga, que resolvi publicar a oração abaixo (Oração para não ficar rabugenta!) que recebi de meu Anjo Número Um, a Marli. (Esta amiga, sim,vale a pena conviver. Nos muitíssimos anos de convívio, nunca a vi lamentando-se de alguma mazela. Com ela, rio e sinto o verdadeiro entusiasmo em compartilhar o que me acontece de bom ou de ruim e reverenciar a nossa amizade).
"Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia.
Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.
Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros.
Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante.
Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preserva os amigos e os filhos quando não há intromissão na vida deles.
Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá asas à minha imaginação para voar diretamente ao ponto que interessa.
Não me permita falar mal de alguém.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças.. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa.
Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência.
Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errada em algumas ocasiões.
Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.
Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço: Mantenha-me o mais amável possível.
Livrai-me de ser santa. É difícil conviver com santos!
Mas um velha rabugenta, Senhor, é obra prima do mal! Poupe-me, por misericórdia. E proteja-me contra os mal intencionados....
Assim seja!
Amém !!!"
Psiu!
Sem a autorização da remetente, passei a oração para o feminino, mas quero lembrar a todos os meus visitantes (homens) que a tentativa de não ficarem rabugentos vale para eles também. (Conheço cada "velho" chato que, mesmo que não queira, estabeleço uma sutil relação com o que eram na juventude e nos monstrengos em que se transformaram...) Ontem mesmo, tive uma triste constatação da falta de cavalheirismo por parte de um cidadão conhecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário