sábado, 2 de agosto de 2008

Palavras ao Vento, por quê?



As roupas, grávidas de vento, dançavam, num vaivém policromático, assenhoradas do tempo, como se a ânsia de revestir corpos nus fosse a sua desiderata.

Nada as deteria. Nem o sol que, teimosamente, brincava de esconde-esconde com as nuvens. O vento, ora vilão, ora mocinho, assobiava cálidas melodias ou as agitava num mãos-ao-alto sem sentido.

Vestes, sol e vento, unidos em estranha coreografia, profetizavam que o dia seria lindo. Que cheiros, que emoções, que sonhos, entranhados em roupagens tão diferentes, sucumbiram no gira-gira da máquina de lavar? Que mãos as retorceram; seriam rústicas, delicadas, inconsequentes, apressadas, letárgicas ou já estariam automatizadas pelo contumaz do ato? Em sua dança frenética, os movimentos delas traduziriam saudações, despedidas, carícias,ou, meramente, repetiriam gestos, revelariam quereres de quem se metamorfozeava ao sol?

Perguntas sem respostas, abstratos sem concretos, mentiras sem verdades, sonhos à espera do realizador.O inusitado do ritmo imprido pela brisa que substituira o velho vento, que antes as entrelaçava, que as iludira a alçar voo em fuga dos grilhões que as aprisionavam ao varal, unia-as e afastava-as numa irritante imitação de fatos do cotidiano, em que os faltosos cometiam os mesmos erros, como se as lições de ética, de honestidade, de compartilhamentos do bem soassem como palavras ao vento...

Foi com um texto, centrado na mesma temátia ( roupas balançando no varal, sopradas pelo vento) e, com o mesmo título, na quarta série do primário (hoje, ensino fundamental), que obtive, em redação, a primeira de uma série de notas dez. Por esse motivo,resolvi rebatizar o meu blog, anteriormente, nominado "Mexendo com as palavras", como "Palavras ao Vento".

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