Se o carinho fosse cultuado como um "vício"
dignificante por todos, não haveria tanta maldade no mundo. Quem iria agredir
alguém cheio de amor e carinho para dar?
Conheço muitas pessoas tão parcimoniosas no afeto que se
assustam quando alguém as "ataca" com um gesto afetuoso. Quando
oferecem um ósculo (não é um palavrão, é o primo irmão de beijo), o gesto mais
próximo do carinho é um automático e rápido encosto no rosto do acariciado.
Para mim, abraçar tem que ser um abraço efusivo, acintoso,
carregado de força emocional. Como se mil braços macios e aconchegantes
envolvessem o enlaçado. Ou se, no gesto simples de abrir os braços para
abraçar, estivesse também abraçando a natureza e tudo o que de maravilhoso nela
existe.
Beijar, se na boca, tem que ser, preferencialmente, de
língua, ou acintosamente pleno de paixão, como se fosse o último a ser
compartilhado. Se o beijo for nas faces, não o aceito se não agregar a ele um
estalo pleno de emoção. Não gosto daqueles beijinhos sociais, quando as pessoas,
encostando a face na face do cumprimentado, fazem a boca articular
desagradáveis muxoxos. (Também não é palavra de baixo calão. É aquele jeito de
se tocar a língua entre os dentes ou lábios batendo nos lábios e se ouvir um
tchetchetchetche ou bchtebchetbchet!)
Tais beijos nada representam para mim. Se tenho que beijar,
beijo meeeeesmo com tudo a que o par, seja homem ou mulher, tem direito.
Se vou demonstrar o quanto quero bem a alguém, extravaso nos
gestos. Abraço-o com a mesma emoção que abraçaria um filho. Não sou econômica
no afeto, única coisa interessante que posso oferecer em abundância. Equilibro o carinho com o comedimento das palavras, porque
exercito a arte de ouvir com o mesmo cuidado com que miserabilizo as palavras,
temerosa de melindrar o acariciado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário