terça-feira, 8 de junho de 2010

Os pecados das avós


Lendo o texto Decisões noturnas de Tanise Dvoskin que saiu encartado em Zero Hora, no caderno Meu filho, identifiquei-me com a mãe da escritora nos pecadilhos (para nós, as avós, mas pecadões para as mãezinhas de primeira viagem) cometidos durante o cuidado de netos e a falta que esse tratamento gostoso faz a eles. Posso falar isso de cátedra porque os meus filhos não conheceram o amor desmedido de avós. Uma, a sogra, porque apregoava aos quatro ventos que neto era só o primeiro, a ele deveria dedicar (e dedicou) o seu intenso e ilimitado afeto.

Os netos que vieram depois, para ela, foram só um complemento a mais... A outra, a mãe, (já estava viúva e recente quando os meus filhos nasceram), preocupara-se mais em gerir os bens herdados e as filhas adolescentes do que dispensar maiores atenções aos netos.

Em compensação, eles, os filhos meus, não têm nada de bom ou de ruim para manifestar sobre as avós. Indiferença talvez. Por tudo isso e por ter vivenciado esses fatos, pecarei sempre por excesso de afeto, pois o meu coração é gigante e ainda há nele muito amor a distribuir aos dois que já tenho e aos netinhos que possam, ainda, vir.

Não fui e não sou mãe castradora ou palpiteira. Ao contrário, prefiro pecar por omissão a fazê-lo por intromissão. Posso até não gostar do que vejo acontecendo na vida dos filhos, mas recuso-me a tecer qualquer comentário, dar sugestões ou me “meter onde não fui chamada”. É aquela tão decantada história: “se conselho valesse, todo mundo cobraria por ele”. No que diz respeito a minha netinha, perco as rédeas da boa conduta e cometo tantos deslizes amorosos quanto acredito a menina ser merecedora. Ela o é e quanto!

Vou me policiar na temporada em que ficarei cuidando da Marianna durante a viagem de seus pais ao Canadá. No entanto, não vacilarei, caso ela sinta falta deles, em mimá-la além da "conta" e farei tudo para torná-la feliz e reconfortada.

O que mais me comoveu no texto de Tanise foi a resposta que ela deu ao e-mail enviado pela mãe em situação já vivenciada por mim enquanto cuidava de minha netinha. Porque incorporei o que vi e ouvi durante toda a minha vida, avó é para mimar; quem deve educar são os pais, cometi alguns "erros" enquanto zelava por ela, o que causou desconforto a minha filha e dela também levei um "pito". (Claro que me empenho intensamente em não deseducar a minha garotinha, mas...)

Para entenderem o que estou escrevendo, abaixo reproduzo os escritos e a resposta da articulista de Zero Hora.

Decisões noturnas

"Apesar de minha mãe e minha irmã falarem que eu nunca peço ajuda, adoro quando posso contar com outras pessoas queridas nos cuidados da minha filha. Dia desses, as duas passaram uma noite na nossa casa. Não tive dúvida. Na hora de dormir eu disse:


– A noite é com vocês! Assumam a guriazinha até às 8h!

As duas adoraram a responsabilidade, e a minha irmã, que raramente está por aqui, decidiu que quem ficaria de olho na babá eletrônica seria ela.

Eu fechei a porta do meu quarto e esperava dormir direto até o outro dia. Mas às 3h30min ouvi o choro da minha filha. Eu havia explicado a elas que, se a pequena desse uma choradinha, era só botar o bico que ela parava. E que a mamadeira era só às 7h ou 8h, dependendo do horário que ela acordasse. Mas como a movimentação estava intensa no corredor, não resisti e fui ver o que estava acontecendo.

Quando cheguei ao quarto da Sofia, minha mãe estava dando mamá a ela. Às 3h30min. Hábito que eu já havia cortado há alguns meses. Na hora falei um tanto brava:

– Eu disse que ela só mama de manhã.

Minha mãe respondeu:

– Mas ela estava com fome.

Minha irmã completou:

– Agora não adianta tirar a mamadeira dela, né?

Ela tinha razão.

Terminou o mamá e as duas levaram o bebê para deitar na cama delas. Aí eu peguei a Sofia e levei-a de volta ao berço. Às 7h, ela acordou, e as duas tomaram conta até as 9h, quando levantei. À tarde minha mãe foi embora e me mandou o seguinte e-mail:

Vivi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida hoje com a Sofia. Baiaia e eu passamos a noite atentas a ela. Na verdade, mais a Baiaia do que eu. Melhor assim, porque a única vez em que me “manifestei” dei uma mamadeira na hora errada. Pô, não queria que minha filha acordasse, tentei fazer minha amada dormir, e levei um “pito”. Fui dormir irritada. Mas esqueci de tudo quando a Sofia acordou, às 7h. Dormindo sozinha em seu quarto. Por quê? Tão pequeninha! Mas vovó Sônia, este problema não é teu.

Vovó! Vovó!, ela me chamava. Lá estava ela de pezinho no berço me esperando. E, quando me viu, abriu aquele sorriso que é só dela. Pronto! Esqueci de tudo. Não existe despertar melhor do que este. Já estou pronta para a próxima vez. Dar a mamadeira na hora em que ela quiser e ser de novo acordada por ela. Ah, e ela é tão pequeninha mesmo para dormir sozinha. Beijos, Mama.

Adorei a mensagem e fiquei pensando: que coisa boa poder passar um noite com a avó e a dinda. Que mal teria ela ter dormido na cama entre as duas? Se minha mãe achou melhor dar a mamadeira na hora “errada”, grande coisa.

Eu me esforço tanto para manter hábitos e regras com minha filha. Consegui fazer com que ela dormisse a noite toda sozinha em seu quarto e fiquei com medo de que pudesse haver alguma “recaída”. Mas, quer saber? De vez em quando sair da rotina não tem mal nenhum. Ou melhor, faz até bem. Mama, pode vir dormir aqui de novo que eu prometo não me meter nas tuas decisões noturnas!"

É isso, leitoras queridas e vovós!


Podem nos encher de desaforos por sermos tão "mimadoras", o que vale a pena é o afeto compensador com que os netinhos nos retribuem. Do resto, quem se importa?

7 comentários:

  1. Arlete,este negócio de ser avô distante é de doer o coração,agora mesmo estou saindo para comprar um ursinho de pelucia para mandar para a neta pelo dia dos namorados.Vais ver o RC?Tens que ir mesmo,fazer aquilo que nos dá prazer e alegria.Viva o Rei,até domingo,porque depois é só futebol.

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  2. Olá, Amigo:
    O que mais precisamos fazer, como avós distantes, é marcar, com a maior intensidade, os nossos espaços no coraçãozinho dos netos. Quanto a isso, somos mestres, não?
    Desta vez, não vou assistir ao Rei, porque, após o dia 18, estarei em São Leo cuidando da Marianna, porque os pais dela vão para o Canadá. Preciso estar com toda a disponibilidade, pois a garotinha é dinâmica como a vovó dela...
    E o Brasil, poderemos ter esperanças?
    Um abração.

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  3. MInha amada mãezinha...o teu genro leu a ZH de ontem e gritou...hj tu não pode perder a Tanise..está relatando tudo o que vai nos acontecer na nossa viagem,...dei risada..e eu como acho que sou uma mãe maravilhosa e quero ver sempre minha filha feliz, li e disse para ele: coisa boa que temos a minha mãe para ensinar a nossa Marianna que a vida não é cheia de regras apenas, e sim a vida é cheia de momentos!
    Se esse for o momento delas curtirem e a minha filha ficar feliz...que seja...ela é só um bebê, não gosto e nem nunca gostei de regras, sempre gostei do AMOR e disso tenho certeza que meus pais vem cheios para dar para minha Marianna!
    E assim é a vida!
    E viva o AMOR!
    E viva o AMOR!
    E viva EU por eu ter uma mãe e um pai tão mnaravilhosos, que vão deixar a vida deles para cuidar da nossa vida!
    VIVA! VIVA!!

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  4. Arlete, adorei o texto!! Minha primeira vez aqui e prometo ser frequentadora assídua agora! Haaa..., e podes contar com a dinda aqui para "desregrar-mos" a Marianna no período de "férias" da Dani e Cesar!!..rs..

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  5. Oi, Daniellinha e Carla:
    Coisa maravilhosa é ter a chance de corresponder à confiança de pais e dinda tão dedicados como vocês. Estou contando os dias para realizar mais este grande sonho: ficar com a Marianna, agir não só como avó, mas como mãe e anjo da guarda . É como acertar na loteria acumulada todos os dias e continuar acreditando que acertarei mil vezes mais. Isso se chama FELICIDADE.
    Amo vocês.

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  6. Psiu, Carla!
    Adorei o que escreveste sobre este blog. Aceito sugestões e críticas. Espero a tua visita sempre. Um carinhoso e agradecido abraço à dedicação, carinho e amizade que dispensas aos meus três amores daí.

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  7. Arlete, tudo que faço é de coração. Como bem dizia Friedrich Nietzsche: "Aquilo que se faz por amor, parece ir sempre além dos limites do bem e do mal." E ele tem razão...!!! Também amo todos vocês!! Quanto ao blog, ADOOOOROOO!!! Vou estar sempre lendo as novidades! Beijo grande!!

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