quinta-feira, 31 de maio de 2012

Assim é a vida



Ando carente de filhos, de abraços, de compartilhamento de segredinhos, de cumplicidades trocadas entre doces sorrisos de malícia, que só o sabem fazer mães e filhos. Ando sedenta de beijos sem nenhum compromisso, somente pelo prazer de beijar, sem motivos justificáveis. Apenas para mostrar que amo o beijado. Ando faminta de tardes vazias, deixadas soltas pelo ínfimo prazer de que estou viva. Ando ansiosa por danças acompanhada ou sozinha, pela mera intenção de deixar o corpo flanar no ritmo de uma bela melodia.

Ando saudosa de campos, de mato, de rio, só para voltar no tempo e sentir a doçura do que foi a minha infância. Ando necessitada de preces, assim, sem compromissos com santos ou deuses, para dar paz aos meus indiscretos conflitos interiores. Ando nostálgica de meus arroubos juvenis, em que dialogava com o vento sem medo de articular as palavras mais ousadas. Ando à espera de noites em que o sono é senhor absoluto e a fuga dele me faz inquieta e saudosa.

Ando contando os dias porque terei saciada a espera de meus amores. Então, deixarei que a vida escorra lassa, sem rédeas, sem relógios, sem pressa. As tardes não serão mais vazias. As noites de insônia terão um sentido. Os beijos serão ofertados sem parcimônia. Os abraços se farão desmedidos. Os segredos tomarão as formas da verdade revelada. As saudades da infância corporificar-se-ão em minha netinha e os tormentos interiores irão embora com a mesma rapidez como em mim se apresentaram.

Assim é a vida, cíclica, ininterrupta, com dias plenos de encantos e noites negras como temporais. O segredo é estabelecer os limites entre o bom e o ruim, a paz e a tormenta, a alegria e a dor, os sonhos e o palpável.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Carpe diem!



Bom dia, querido e queridas!

Mal a noite fugiu do dia para adormecer o outro lado do mundo quando fui despertada por uma suave cantiga de passarinhos. Feliz por ainda me sensibilizar com acontecimento poético mesmo que trivial como esse e ter o domínio da percepção auditiva, pulei da cama para saudar a vida. O sol acolheu-me sorrindo, fazendo com que a visibilidade me fosse ofuscada pelos raios robustos, vibrantes, plenos de luz.

Depois, acomodada a retina à intensa luminosidade, sorri também para o astro bem rei, soberano, único porque, no Outono, não se depara com a rivalidade das flores e o verde único das árvores, que, quase esquálidas, tombadas folhas e flores, ousam ensaiar um bailado meio sem jeito, coreografadas por um ventinho tão tímido quanto a chuva, que, emburrada, insiste em não se apresentar para lavar a alma da terra, ressequida pela estiagem.

Sorri outra vez, de dente a dente, boca em transe pela surpresa da aurora, sabedora de que teria um dia muito bom. Encantada com o alaranjado das folhas, substituído o verde tradicional  e feliz comigo e com a vida, desejo a vocês que a passagem desta terça-feira seja repleta de luz, de renovadas energias e muito amor para dar e receber.

Tenham, pois, amigos e amigas muito queridos, um ÓTIMO DIA! E CARPE DIEM!

20 FOTOS ESPETACULARES, parte 1

Recebi estas fotos do meu cunhado Ariosto. Lindas!



















 Amanhã postarei mais fotos belíssimas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma verdade escondida


Maiakovisk, poeta russo, “suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu, ainda no início do século XX :

Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
                                   
                                   Depois de Maiakovisk...

Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida, levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso.
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados,
Mas, como tenho meu emprego,
Também não me importei

Agora estão me levando,
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém,
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)



Um dia vieram e levaram meu vizinho
 que era judeu.
Como não sou judeu,
 não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho
que era comunista.
Como não sou comunista,
não me incomodei.

No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico,
não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar...

Martin Niemöller, 1933, (símbolo da resistência aos nazistas)


O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.

Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio : porque a palavra, há muito se tornou inútil…

                                        - até quando?..
Pensem nisso!

domingo, 27 de maio de 2012